O Sítio
Aquele velho projeto de fazer um fãzine com os amigos...


terça-feira, julho 27, 2004  

O Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças - Michel Gondry

Tem lá seus pequenos defeitos, mas o sentimento geral do filme é de puta que pariu, do caralho! Seria o primeiro roteirista no cinema abduzindo os diretores, se não fosse George Clooney pra dirigir Confissões de uma Mente Perigosa, roteiro também de Charlie Kaufman. Porque Spike Jonze e Michel Gondry são muito, muito parecidos na direção. A interação entre mundo real / fantasia deles é muito parecida.

Tem uma música belíssima que toca no começo e no fim, causando meio o que One de Aimeé Mann causou em Magnólia. Só no final é que reconheci a voz e confirmei nos créditos. É Beck, cantando um cover de algum soulzão dos anos 70. Linda, linda, linda. De cortar o coração de linda.

O roteiro chuta o balde como outros de Kaufman, mas consegue como somente Quero Ser John Malkovich conseguiu criar uma ligação emocional forte com o espectador (este que escreve, pelo menos). É pesado na maior parte do tempo, enfocando a deterioração de um relacionamento, meio Bergman, e mais pesado ainda mostrando o que este relacionamento era no começo (quando já sabemos o que irá se tornar). É quase sempre triste e belo, muito dos dois. E escrachado e louco em outras partes. E às vezes isso e aquilo ao mesmo tempo. Esses sentimentos de solidão, ansiedade e melancolia que permeiam o filme me lembraram muito dos Excêntricos Tannenbaums.

A história paralela dos empregados da Lacuna Inc. poderia ser só um detalhe engraçado e funcional (a razão pra a Mary fazer o que fez no final), mas o cara conseguiu desenvolver uma grande história paralela, espelhando a outra afundando ainda mais na complexidade da situação.

E tem ainda a parte técnica, o cara ter conseguido filmar cada uma das loucuras com o mínimo de efeitos especiais possível. Tem a cena da cozinha com Joel embaixo da mesa, que eu acho que teve um golpe de perspectiva pra ele parecer menor sem precisar diminuí-lo digitalmente, bem feito que só a porra. Tem a cena da casa de praia desmoronando, cada take com o fundo completamente mudado. Tem a cena da rua onde ele só conhece um lado, mesmo que vá pro outro. A cena do passarinho morto, com a intermitência de Joel e Clementine entre adultos e crianças. Uso de iluminação e montagem do caralho pra evitar os efeitos especiais. Não conseguiu fugir deles na cena do cara que ele só conhecia de costas e naquela estação onde as pessoas iam sumindo (especialmente feia), mas eu perdôo.

E no final o cara ainda estendeu a história pra bem mais longe do que eu supunha (achava que iria acabar com o reencontro do começo). Muito bom esse negócio que o Kaufman tem de, por mais louca que seja a premissa, seguir todos os desenrolares possíveis de forma lógica.

Se eu já havia ficado fã de Jim Carrey no Show de Truman, aqui ele subiu uns degraus a mais na atuação. Tá muito bom, muito mesmo. O resto todo massa, e Kirsten Dunst, linda. A dança de calcinha na cama lembrou a abertura de Encontros e Desencontros. Cenas ternas e lindas.

De defeitos, que eu citei no começo, achei que as lembranças poderiam ser em menor número, com o caminho entre o relacionamento acabando e começando (e eventuais desvios de caminho) passando por menos cenas. Teve uma hora que o filme parecia não saber mais que caminho seguir e ia indo em frente bambeando.

De qualquer forma, ignorem. Do caralho! Fernando, tu que pode esperar, acha aí com calma um cinema pra assistir. Pro resto, vão até quinta-feira que pela frequência de público, deve sair essa semana ainda.



escrito por Chico Lacerda | 21:59 |


sábado, julho 24, 2004  

As Belezas do Capitalismo

Algumas pessoas já devem ter ido lá. Fui apenas hoje e fiquei de queixo caído. Foi na Livraria Cultura que abriu no Paço Alfândega.

Num olhei nem muito a parte dos livros, porque além de ser um negócio estúpido de grande, era meu horário de almoço e eu já tava atrasado. Fui então direto nos CDs e só numa passada rápida senti que o negócio é na vera. Até álbuns (álbuns, não coletâneas, notem bem) do Blondie, B-52s e Siouxie and the Banshees (muitos) eu achei. Tá, talvez sejam os anos 80 voltando, mas é impressionante de qualquer forma. Tem aquele negócio que eu acho ridículo: um espaço separado, climatizado e sereno, somente para os CDs de música de gente grande: eruditos e de jazz. Mas o acervo que eu vi de jazz (rapidamente, mais uma vez) me fez perdoar essa besteira sem nem pensar. Pra vocês terem uma idéia, ficou pau a pau com o maior acervo que eu já vi pra venda aqui no Brasil, que foi o da Fnac de Campinas.

Mas, se o de CDs ficou pau a pau, o de DVDs deixou a Fnac na poeira. É um negócio de louco de tanto, tanto, tanto DVD de filme. E as caixas, rapaz, caixa de Bergman, de Tarkovski, de Hitchcock, de Rosselini, de de Sicca, de Almodóvar, de Visconti, de Khouri. E se, nos CDs, tem aquele sisteminha de você passar o código de barra do CD na maquininha e poder ouví-lo todo, na parte de DVD as maquininhas de mostrar o preço têm telinhas que começam a passar o filme quando você passa o código de barra nela. Brinque não, doido, que é de com força!

E eu, de joelhos, prostrado ante esse deus do consumo, tive que fazer minha mínima oferenda: comprei o novo do Morrissey pelo preço padrão (tava esperando baixar antes de comprar) e ainda levei um John Fante que eles colocaram de lado do caixa pros desavisados da fila darem uma folheada e não largarem mais. Saí com o o coração leve e o sentimento de dever cumprido, tendo azeitado o pouco que fosse o grande engenho do capitalismo.

Se eu tava achando que um negócio desse tamanho não tinha muito futuro aqui no Recife, tô concordando com Júlia agora: tô temendo é pelo futuro do resto das livrarias daqui.

escrito por Chico Lacerda | 11:37 |


sexta-feira, julho 02, 2004  

O Diabo Veste Rosa

Já está disponível pra quem se interessar o meu mais novo curta-metragem: O Diabo Veste Rosa. Tá nesse endereço aqui: http://users.hotlink.com.br/lfl/. Cliquem com o botão direito em cima do link odiabovesterosa.wmv e escolham 'Salvar como' ou 'Save as' e salvem numa pasta daí do computador de vocês. Caso contrário, o bicho começa a rodar em stream e, como é bem grande, fica travando que é uma beleza. Obviamente, assistam com o som ligado.




escrito por Chico Lacerda | 13:08 |
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