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O Sítio Aquele velho projeto de fazer um fãzine com os amigos... |
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![]() quinta-feira, abril 22, 2004 Antitético Tempo e ser. Memórias que eu tenho, todas elas, são elementos de um tempo. Eu gostaria de viver fatos. Acima do tempo e acima do ser, os fatos não são elementos. São fatos. São imponentes. Desprovidos de subjetividade. Certos. Os fatos são precisos. Essas coisas óbvias: ninguém as discute. Gostaria de lembrar-me apenas do inquestionável; uma vida inteira somente de fatos. E estás no tempo, minha linda; és um ser por conta do tempo que te abraça, que te permite existir. E olho pra esses teus olhos tão grandes e tão castanhos; e pego nessas tuas mãos tão geladas e tão brancas, e preciso te dizer, no cantinho do ouvido: és a coisa mais repugnante que já me ocorreu. Reflito: não serás mais um ser quando alguém fizer parar o teu tempo. Basta um fato e desaparecerás. Lembro-me bem de tuas explicações, teus argumentos, tuas enrolações, todas essas tuas coisas que fedem. Teus preceitos que não existem. Essas tuas histórias que me desconfiguraram a vida. Sabes, não sabes? Sabes que acabaste com minhas convicções, não sabes? Mas tu, perturbada do jeito que és, podes até gostar de ter me destruído. Não vais mais me consumir. Acabo contigo primeiro. E vai ser simples, todos irão aceitar: será simplesmente um fato, da forma mais seca que há. Sua versão? A de que eu me magoei sem motivos; e que não há realmente ofensas no mundo existente unicamente a partir do tempo e do ser; e que o que há entre nós é uma vivência de expectativas e, portanto, se tua escrotice acabou com a minha saúde mental é porque eu esperei algo que não necessariamente seria um fato? Essa é a tua versão? Sabes do teu egoísmo, não sabes? O teu jeito de explicar o mundo inteiro a partir de como as coisas se encaixam na tua mente. O teu agir com outras pessoas destina-se somente a ti; não consegues entender o entrelace que há entre os seres. E, assim, não amas, não vives, não sabes nada do ser. E vens com tuas histórias sobre interpretações, visões, diferentes pontos de vista, considerações pessoais, sentimentos que só tu tens. E me vens com as expectativas. E resumes tudo o que é certo - e que nem é fato -, tudo o que se sente a expectativas. Teu orgulho não vai te deixar dizer sequer um ai. Agora, que estás em minhas mãos, acabo contigo quando quiser. Da mais fatídica maneira. escrito por Júlia | 21:11 | sábado, abril 17, 2004 Músicas para Dormir Não, não acho que sejam relaxantes ou chatas, nada disso. Mas estava aqui no computador fazendo um relatório e, antes de deitar pra dormir, dei uma passeada pela minha pasta de MP3s e coloquei cinco músicas na fila no Winamp, pra ouvir no quarto escuro, deitado na cama, e dormir bem. Terminaram as músicas e o que deu foi vontade de escrever sobre elas. E aqui estou eu. Bom, a primeira foi Disorder, do álbum Unknown Pleasures de Joy Division. Coloquei na lista porque é foderosa, não canso de ouvir. E tenho isso com o Joy Division: não consigo curtir álbuns inteiros, mas sim músicas. É empolgante, tem pegada, vai crescendo durante toda a sua extensão. É foderosa. A segunda foi Carry Me Ohio, do álbum Ghosts of the Great Highway, do Sun Kil Moon. Pra quem não conhece, é a banda nova de Mark Kozelek. Pra quem não conhece ele, é o cara por trás da finada Red House Painters. Pra quem não conhece essa, é pra mim a versão masculina do Cat Power, com algumas diferenças básicas: ele é calmo, conformado. Tão doído quanto Chan Marshall, um vocal belíssimo também, mas mais calmo, mais contido. É triste que só a porra também, acho que esse é o ponto de contato mais forte entre os dois. Muito nostálgico e triste. Anote, Bandeira, pra a sua tese da geração triste. E tem arranjos mais complexos. Menos variados que os de Chan Marshall mas mais complexos. Mais planejados também, não tão soltos quanto os dela, mas tão lindos quanto. Eu sei que essa música dele dava pra falar num post inteiro. Em comparação com as obras anteriores (ele tem uns seis ou sete álbuns como Red House Painters e algumas gravações solo) , esse álbum é bem menos complexo em termos de variações de arranjo. A levada é sempre bem parecida, lenta lenta lenta, só o que muda de uma música pra outra é o uso ou não de guitarra distorcida. Pois bem, essa música é o cúmulo da manipulação. Tem sete minutos, três estrofes gigantescas. As estrofes são uma repetição das mesmas poucas notas, muito pouco melódicas, junto com as frases ditas de forma também bem pouco melódica. Bateria acompanha quase sem mudar, sem virada, sem prato, sem nada. É quase um mantra, com frases pedindo desculpas por não poder amar de volta, falando dos dias que passaram, green green green, what about the sweetness we knew etc. Pois tá, aí chega no refrão e fode tudo. É só uma frase, uma mísera frase de uns quatro segundo e a música sobe pro céu, a melodia vai lá em cima, o cara solta um agudo triste do fundo da alma, heal... her... soul..., and carry her myyy aaaaAAANGEEEL... Ooohioooo... E aí tome mais três minutos de mantra triste, bonito, amelódico e o cara querendo mais um refrão, só mais um, por favor. Pois só tem mais outro, depois da segunda estrofe quilométrica. E tem mais estrofe depois do segundo refrão, mas o safado termina a música sem o terceiro refrão. É em doses homeopáticas pra ficar o gostinho de quero mais. Tô pensando em editar a música e meter uns seis ou sete refrões. A terceira música foi O Plano Mudou, do Wonkavision. Mais uma bandinha gaúcha discípula do Weezer. A diferença é que essa é quase cover, os caras copiam mesmo. Além disso, é boa, muito boa. Nem tem disco lançado, só uma demo menor e uma demo maior. Nove músicas no total. Muito boas ambas. Algumas coisas que me fizeram admirar um bocado o trabalho deles: a) A guitarra soa muito bem nas músicas, tá lá na frente, sem vergonha. Porque mixagem brasileira parece que tem vergonha da guitarra, bota lá atrás. Nesse não, as guitarras soas altas, e bem. A bateria a mesma coisa, lá na frente, empolgante. b) As letras. O negócio é que é muito difícil escrever letra em português pra ficar boa. Ou você é um poeta muito do bom, ou então fica feio. Letra simples fica feia em português, não sei por que. Não é regra, mas é coisa de maioria. E os caras (e as garotas, é meio a meio) conseguem fazer letras extremamente simples, interessantes e, acima de tudo, sinceras. E muito boas. c) O som é bom demais. Como as letras, é bem simples, mas tem umas firulas, um controle do ritmo e da levada, umas quebradas gostosas que me lembraram até o Mellotrons. E a coisa toda soa muito espontânea, a gravação conseguiu captar isso, espontânea, sem muita produção e muito bem feita, bem sacada, de ótima qualidade. No final das contas, eles pegaram todos os maneirismos do Weezer, seguem todo o manual à risca, mas conseguiram fazer um negócio original, manter um estilo próprio e único subjacente a tudo. Sei não, só ouvindo. A quarta e a quinta foram do disco Talking with the Taxman About Poetry, de Billy Bragg. É um dos primeiros dele, lá de 83, e é obra-prima. Conheci o disco através de Cecília, que gravou uma fita pra mim em retribuição à do Dots and Loops que eu gravei pra ela, faz uns três anos. Mas a ficha só foi cair agora, como de hábito. Ouvi a fita algumas vezes, achei massa, mas só. Aí recentemente me deu vontade de ouvir, não achei a fita e baixei as músicas. Crássico! A espinha do disco é guitarra elétrica tocada como violão folk e o vocal forte do cara, com um sotaque irlandês muito carregado e muito sexy. Não sexy Isaac Hayes, nada disso. É bem direto, bem forte, jogado. E sexy. Uma música ou outra tem cornetinhas, pandeirola, órgão e, mais raramente ainda, bateria. De resto é só a guitarra e a voz do cara. As letras são foda. Foda mesmo. De uma alegria contagiante em alguns casos, como em Greetings to the New Brunnete, a quarta da minha fila de músicas pra dormir, onde ele canta a felicidade de estar com Shirley. Linda. Talvez eu bote aí embaixo a letra, só por desencargo, porque sei que ninguém lê letra em blog mesmo. Em alguns casos ele é bem sarcástico e, ainda assim, bem alegre, como em The Marriage, onde ele tenta convencer a namorada que aquele negócio de se casar é balela, how can it make that difference if you and i are wearing that bloody bloody ring?? Love is just a moment of giving, and marriage is when we admit our parents were right! Mas essa não entrou na lista. Essa eu ouço demais durante o dia. Coloquei foi The Passion, triste triste e belíssima, guitarra doce com umas batidas arrebatadoras no final do refrão, tempo 3/4 de valsa, subidas no vocal e essa mulher grávida que já detesta o marido e fica pensando como será o menino se ele for só alguém pra ficar do lado de um ou de outro nas brigas. Linda. E agora boa noite, que eu tenho que acordar cedo. Vou terminar com a letra que ninguém vai ler: Greetings to the New Brunette Shirley, it's quite exciting to be sleeping here in this new room Shirley, you're my reason to get out of bed before noon Shirley, you know when we sat out on the fire escape talking Shirley, what did you say about running before we were walking Sometimes when we're as close as this It's like we're in a dream How can you lie there and think of England When you don't even know who's in the team Shirley, your sexual politics have left me all of a muddle Shirley, we are joined in the ideological cuddle I'm celebrating my love for you With a pint of beer and a new tattoo And if you haven't noticed yet I'm more impressionable when my cement is wet Politics and pregnancy Are debated as we empty our glasses And how I love those evening classes Shirley, you really know how to make a young man angry Shirley, can we get through the night without mentioning family The people from your church agree It's not much of a career Trying the handles of parked cars Whoops, there goes another year Whoops, there goes another pint of beer Here we are in our summer years Living on icecream and chocolate kisses Would the leaves fall from the trees If I was your old man and you were my missus Shirley, give my greetings to the new brunette escrito por Chico Lacerda | 03:10 | domingo, abril 11, 2004 The Hire - Vários Diretores ![]() Algumas boas discussões sobre o método de propaganda: é uma estratégia mais ofensiva, por ser mais dissimulada? É um mau uso da arte? É arte? E o que é arte, no final das contas? O que eu sei é que são bem interessantes os filminhos. Todos estrelados por Clive Owen, fazendo esse cara que é contratado pra levar clientes de risco até seu destino na - é claro - BMW Z4 Roadster. Todas as histórias vão mostrar as vantagens do carro, tanto nas perseguições - e os dois primeiros são quase somente perseguições - quanto quando ele quer apenas seguir a mulher de seu cliente discretamente. Apesar disso, não tem cara de propaganda, tendo um formato básico de filme - título, filme, créditos - sem menção ao nome da empresa e com apenas um deles dando um close maior na marca. É mensagem subliminar das boas. Tô até pensando em trocar meu Palio por uma BMW... Nestes dois primeiros em especial, dirigidos por John Frankenheimer e Ang Lee, respectivamente, é interessante ver as grandes diferenças no estilo dos dois diretores nas cenas de perseguição. O primeiro segue a cartilha das perseguições à risca, com os desvios na estrada, os caminhões na contra mão, as batidas e as explosões. Montou uma perseguição muito empolgante mas não saiu muito do lugar comum. Já Ang Lee tirou o pé da realidade completamente e montou um balé com os carros. Primeiro tirou todo o efeito sonoro da coisa, sem freadas ou batidas histéricas, tudo ao som a música, quase como uma propaganda de Vinólea estrelada por carros. E ele brinca muito com a inércia dos carros, as curvas fechadas, as freadas, criando um suspense bem menos histriônico e mais elegante. Até os enquadramentos são bem diferentes, Frankenheimer montando as cenas em cima de planos fechadíssimos e com muitos cortes enquanto Ang Lee mostra tudo bem mais de longe e de cima, com cortes mais espaçados. ![]() ![]() Foi o melhor dos quatro que, talvez percebendo a dificuldade em aprofundar qualquer coisa, seja pelo tempo, seja pela proposta do projeto, abraçou o raso e o histérico com eficiência e ótimos resultados. Só pecou ao quebrar a construção do personagem que havia nos três anteriores, que trouxeram-no dos mais clássicos noirs: soturno, calado, sozinho no mundo, deixando apenas de lado a amoralidade característica. Até agora são oito, mas apenas assisti a estes primeiros quatro. Os restantes são dirigidos por Alejandro González Iñarritu, John Woo, Joe Carnahan e Tony Scott respectivamente. Estão todos disponíveis para download, em qualidade máxima, no site http://usa.bmwfilms.com. Pelo que eu li é somente aí que eles estão disponíveis mesmo, direcionados apenas para a Internet e sem veiculação nem em cinemas nem na TV. escrito por Chico Lacerda | 22:43 | |
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