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O Sítio Aquele velho projeto de fazer um fãzine com os amigos... |
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![]() quarta-feira, fevereiro 18, 2004 Programa Samir Abou Hana Por causa das minhas férias do trabalho, estou tendo oportunidade de almoçar em casa e, durante o almoço e o começo da tarde, dar uma olhada na programação da TV. Algumas constatações: Ratinho abriu filiais locais com os programas de Jota Ferreira e Cardinot, que tripudiam da miséria humana num nível até mais baixo que o mestre; os gays, nas figuras de Clodovil e Leão Lobo, disputam agora com as apresentadoras-donas-de-casa os programas de fofoca; o programa de Samir Abou Hana é um dos melhores programas de entrevista que eu tive a oportunidade de ver em um bom tempo. Antes de tudo, vale ressaltar: a opinião é baseada em apenas um programa que assisti, até porque eu tirei férias exatamente pra ter tempo pra estudar, concluir os projetos e finalmente, depois de longos sete anos, me formar. E esse único programa, visto hoje, me impressinou de tal maneira que eu tive que escrever o mínimo que fosse sobre ele. Três coisas, duas delas bastante relacionadas, me impressionaram muito no apresentador Samir Abou Hana: 1) o respeito que ele mostrou com todos os temas e pessoas abordados; 2) seu humor inteligente, cúmplice e respeitoso (voltando aí ao ponto 1) e 3) o nível de interesse que ele conseguiu manter - pelo menos pra mim - durante todo o programa. O programa mostrou um formato muito parecido, em menor escala, com o de entrevistas de Jô Soares (magnificamente satirizado ontem no programa de Hermes e Renato, por sinal). Começou com ele lendo algumas notícias locais, nacionais e mundiais e logo depois partiu para as entrevistas. Os dois primeiros pontos citados surgiram logo na leitura das notícias: como Jô Soares, ele também comentava de maneira bem pessoal cada nota ou notícia, mas sempre mostrando um respeito e uma visão crítica em relação ao tema que soaram estranhamente deslocados num programa de entrevistas da TV aberta, ou pelo menos comparando com os programas de entrevistas da TV aberta que eu tive a oportunidade de assistir. Uma das notas, por exemplo, extraía da revista Trip trechos de uma longa matéria e entrevista com Joãozinho Trinta, assumindo sua homossexualidade. "É claro que todo mundo já sabia que ele era gay," comentou Samir, "mas finalmente ele se sentiu à vontade para vir a público com isso, já agora, com setenta anos." A nota continuava com alguns trechos citando a primeira relação dele com homens, as poucas experiências que ele teve com mulheres e algumas dessas mulheres comentando que ele não era muito bom de cama não, ao que Samir comentou, rindo mas levemente constrangido com aquela montagem de trechos, que enfatizava o ridículo da matéria "é claro que eu estou falando isso com todo respeito ao Joãozinho Trinta, só estou reproduzindo alguns trechos da matéria" e passou para a próxima nota. Foi uma atitude sutil, que pode até ter surgido de um receio às consequências de comentários de mau gosto com relação ao Joãozinho Trinta, mas que mesmo assim ficou muito à frente do tratamento padrão que se dá a qualquer tema abordado pelos programas de TV que, ao contrário, enfatizam ao máximo o ridículo e o bizarro sem mostrar o mínimo de respeito ou, no máximo, um respeito irônico. Já no caso do humor, diferentemente do palhaço no centro do palco que é Jô Soares, sendo ovacionado em suas piadas grosseiras, desrespeitosas e sem graça pelo auditório retardado e músicos mais ainda (e qualquer acusação de maniqueísmo no meu tratamento com Jô Soares vai ser completamente fundada; abomino-o em seu programa de entrevistas e não procuro esconder isso, muito pelo contrário), Samir Abou Hana congregava entrevistados, equipe do programa (que não vemos) e público (eu, no caso) em seus comentários espirituosos, inteligentes e críticos, rindo com os entrevistados, com as notas e notícias, e não deles, o que faz toda a diferença, e sempre num tom sincero de conversa, não de show. O terceiro ponto mostrou-se na entrevista. Foram entrevistados o rei e a rainha do Baile Municipal, eleitos no fim de semana passado, entrevista que Samir conseguiu tornar, contra todas as minhas expectativas, interessante. Logo depois de mostrar a história do novo rei, perguntou qual era a importância daquela vitória para ele (que tinha perdido por pouco em outras edições). Não ficou satisfeito com a resposta padrão da honra de ser o rei do Municipal daquele carnaval que era o melhor do mundo e símbolo da congregação popular e baboseiras afins e continuou escacavilhando o tema até chegar a uma resposta sincera, que no caso era que aquela exposição de rei do Municipal ajudaria muito em sua carreira de modelo, que ele esperava que aquilo abrisse portas etc. E isso tudo foi feito num jogo aberto e honesto, numa conversa com real interesse, contrastando com o Provocações, programa de entrevistas de Antônio Abujanra, onde ele se baseia muito mais no embate para conseguir extrair a verdade dos entrevistados (e mais ainda com o Jô Soares Onze e Meia - sim, eu não perco uma oportunidade - onde as entrevistas são feitas por outras pessoas por telefone, que depois passam os causos mais engraçados e ridículos ao apresentador pra ele perguntar durante a entrevista real e os entrevistados repetirem o causo e o auditório retardado rir e nada de interessante acontecer). A entrevista seguiu na mesma chave e o interesse do próprio Samir Abou Hana, abrindo caminho para as mais diferentes visões com o aprofundamento de perguntas na maioria das vezes simples, negando sempre a resposta mais fácil, mais clichê e, acima de tudo, mantendo o respeito na relação entrevistador/entrevistado, conseguiu manter o meu interesse até o final do meu almoço e do próprio programa. Pra quem se interessar, passa diariamente na TVU, canal 11, das 13:30 às 14:30. E uma ternurinha pra vocês também. escrito por Chico Lacerda | 15:53 | seis contos da era do jazz. tem gente que ganha você rapidinho. vá lá que eu não sou daquelas que não vou com a cara de alguém de primeira. muito pelo contrário. na verdade, assim de primeira, eu acho que vou com a cara de quase todo mundo. e acho que meu problema deve ser esse. ou não. talvez o meu problema seja quando eu cisme com alguém. não é nem cisma. até porque isso é algo bem raro. mas é como se a pessoa em questão, a da primeira olhada do caso, fosse pesada demais pra eu poder respirar o mesmo ar que ela. e aí as costas começam a pesar e tem alguma coisa esquista no olho da tal criatura. acontece que toda essa balela é pra dizer que eu fui com a cara de f. scott fitzgerald de primeira. mesmo que você pense 'nah, ela já assumiu que vai com a cara de quase todo mundo'. mas ele é um escritor, entende? e é fácil de se cismar com um escritor. você tá respirando muito mais perto dele do que você já respirou de muita gente que você vê todo dia! o ar pesaria logo. as costas endureceriam a ponto de você virar um poste e não conseguir sair do canto. ou sair correndo, mas como um poste, diga-se de passagem. seis contos da era do jazz é uma coletânea de contos escritos entre 1920 e 1924, possuindo histórias e personagens que se constroem e se solidificam de uma forma impressionante, se tratando de contos. então você sente que conhece todo mundo de uma forma espantosamente bem, até mesmo as personagens menores que estão ali fazendo um bico numa página do sr fitzerald, e acaba por se colocar na história como algum vizinho de uma daquelas comunidades ou frequentador da moonlight quill. olha que muitas foram as vezes que eu li um livro e me confundi com a personagem. 'mas o quê?! lispector escreveu isso pra mim! olha eu aqui, olha!' (do que vale, não é? e quantas mulheres não pensaram isso? existe literatura feminina? por que essa senhora clarice é quase unanimidade? e é unanimidade? e ela comeu uma meleca de barata, sabia? - mas isso já é outro post, sim?) o que ocorreu em mim ao ler seis contos da era do jazz foi quase um espanto. quase que uma descoberta da minha ignorância. era ver que eu estava completamente absorta naquela leitura, naquelas vidas, naqueles sistemas de conduta e de pensamento que eu nunca vivi, mas que mesmo sem sentir dentro de mim aquelas realidades e verdades, eu vivi como uma espectadora atenta, que sentiu o que sentiu não numa forma de catarse de dó ou alegria de mim, ou de "eu descobri a vida através das suas histórias" (mesmo depois d"o curioso caso de benjamin button"). é, a coisa foi tão outra. foi um sentir que todos eles viviam independente de mim. mesmo depois de eu ter terminado o livro, a ruiva - já velha e sem o mesmo vigor - continuava e continuaria a enfeitiçar os pobres homens. jim powell continua um boa-vida, lembra-se dele? e o que me doía ao acabar um 'apanhador no campo de centeio', por exemplo, era a sensação de que aquela minha vida ali acabava também. em fitzgerald, acho que eu era quase uma voyeur. não, não. nada de reality show. nada de câmeras escondidas. estamos na década de 20. não, nem a vizinha fofoqueira porque qualquer coisa poderia virar um bafafá só, e não precisaria de mim, mas nesse caso, o meu olho é só meu prazer de observar a humanidade. sem juízo. sem paixão. sem precisar alardear o que em mim é desperto. fitzgerald consegue contar suas histórias e apertar em mim o botão da empolgação e paixão sem me fazer envolver e viver o personagem. deixa eu olhar também. deixa eu me fantasiar na festa à fantasia, mas eu não vou de camelo. posso estar de palhaça. deixa eu entrar na livraria, mas eu não vou jogar livro nenhum contra à vidraça. e é realmente espantoso como eu estou ali dentro sem ser nenhum deles. é quase tão espantoso como ir ver seu filho que acabou de nascer, e encontrar no berçário um senhor de setenta anos, já impaciente. e sim, ele é seu filho mesmo. não há dúvidas. SEIS CONTOS DA ERA DO JAZZ FITZGERALD, FRANCIS SCOTT editora: JOSE OLYMPIO escrito por simone jubert | 01:00 | segunda-feira, fevereiro 02, 2004 Lost In Translation - Sofia Coppola Impressões ![]() * Bill Murray está muito bom, mas Scarlett Johansson está excepcional, na atuação, na beleza. Nunca saí do cinema tão apaixonado por uma atriz. E ela tem buchinho. * Três cenas especiais: Charlotte sentada na banheira, headphones nos ouvidos, olhando pela janela do banheiro; o carro saindo do túnel depois da farra, imagens de uma ponte e da cidade ao som de Sometimes; Charlotte e Bob conversando sentados na cama com a câmera fixa na janela durante todo o diálogo, onde vemos os reflexos deles contra o infinito de luzes noturnas de Tóquio. ![]() * Essa frase de Charlotte acabou comigo: "Let's not ever come back here... because it'll never be as much fun again." A conversa toda com eles deitados na cama é do caralho, na verdade. E a conversa de Bob com a esposa no telefone, ele na banheira-piscina verde. Porra, quase não tem diálogo o filme, mas quando tem, bota pra foder. * A impressão é de que tudo aquilo foi vivido. O filme foi escrito, descrito, planejado, filmado porque foi vivido. A melancolia, o estranhamento, o vazio, a amizade, as farras, a necessidade de alguém, o abraço. Cada ângulo de cada paisagem foi visto e sentido, da cidade ao quarto de hotel, do bar à noite, do casamento aos jardins de Kioto, tudo transborda sinceridade e humanidade. ![]() * A trilha sonora não funciona muito bem sozinha - eu já tinha ouvido antes do filme. Mas está perfeita no filme. * Deu vontade de passar um tempo no Japão. Deu vontade de fazer minha festa de aniversário numa daquelas salinhas de karaokê, com aquele janelão de parede a parede caindo na cidade. Deu vontade de me perder um pouquinho. * É incrível como um abraço pode mudar todo o sentimento do filme. Eles não vivem felizes para sempre, eles não ficam juntos, eles nem encontram uma saída pra coisa nenhuma. Eles simplesmente se abraçam e é foda! Ah, e toca Just Like Honey. escrito por Chico Lacerda | 12:17 | |
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