O Sítio
Aquele velho projeto de fazer um fãzine com os amigos...


sexta-feira, janeiro 30, 2004  

Skank - Vou Deixar

A capa - de influências descaradamente sessentistas - e a primeira música de trabalho - Dois Rios, parceria com Lô Borges e cópia das melodias e do estilo do próprio da época de seus primeiros discos - já revelavam a que o Cosmotron, mais recente álbum do Skank, se propunha.

A segunda música de trabalho, Vou Deixar, apenas confirma a teoria: é cópia do pop psicodélico mais inofensivo da segunda metade dos anos 60 feito por bandas como The Monkees (Pleasant Valley Sunday), The Lovin' Spoonful (Do You Believe in Magic), The Cowsills (The Rain, The Park and Other Things), sem fazer qualquer tipo de atualização, ao contrário do que fizeram muito bem seus congêneres de influências Supergrass e Super Furry Animals, pra citar dois exemplos.

Duplamente copiado, na verdade, se levarmos em conta bandas e artistas recentes do sul do país - Video Hits, Bidê ou Balde e Frank Jorge são alguns deles - que já punham em prática as mesmas propostas com igual ou maior competência há uns bons seis anos. E tudo isso sem falar no clipe (vide fotos), um pastiche dos clipes do Cornershop e Kula Shaker.

Mas, apesar de tudo isso, e sendo esta principal razão que me levou a escrever este texto, a música é do caralho, da mesma forma que o clipe. Alegre, balançante, melodia grudentíssima com guitarra limpa de batida que empolga, violão e teclados doces apoiando as subidas arrebatadoras do vocal. Em nada original, uma cópia simplesmente, mas uma cópia surpreendente mesmo assim, que se instalou na minha cabeça e já me obriga a procurar o disco. Deve ser a tal magia do pop...

escrito por Chico Lacerda | 19:38 |


segunda-feira, janeiro 26, 2004  

(Nota: a resenha a seguir foi escrita para a revista do Coquetel Molotov, que deverá sair em breve.)

The Rapture – Echoes (2003)

Rótulos não faltam para descrever o som do Rapture: digifunk, disco-punk, dance-punk e assim por diante. Já se fala até que se trata de um “movimento”. Aos meus ouvidos, no entanto, o som do Rapture (e das outras bandas enquadradas) não vai muito além de uma retomada do que se fazia entre o fim dos anos 70 e o começo dos anos 80, por bandas como Public Image Limited, A Certain Ratio e Gang Of Four. O tal disco-punk incorpora a dance music da metade dos anos 80 pra cá (house, techno) do mesmo jeito que as bandas daquela época faziam com a música disco, o reggae e o funk: ao som e à atitude punk, adicionavam elementos desses estilos, tais como as batidas, as linhas de baixo e a estrutura das músicas.

Para isso, o Rapture conta com a parceria do DFA, a dupla de produtores responsável por transformar a então não-tão-promissora banda de Nova York num sucesso das pistas de dança. Graças ao famigerado 12 polegadas arrasa-quarteirão “House Of Jealous Lovers”, de 2002, toda a atenção esteve voltada para a banda. Complicações com a gravadora acabaram adiando o lançamento do álbum, que só sairia no fim de 2003; muito antes disso, contudo, “Echoes” já havia vazado pelos programas de troca de arquivos da internet.

Mas, afinal, valeu a pena esperar? Para a mídia, sim, porque ela conseguiu criar o maior hype de 2003, em todos os cantos do mundo (até no Brasil o disco foi lançado, graças, também, à vinda da banda ao país em Outubro do ano passado). Para nós, ouvintes, a resposta não é tão simples assim.

Porque “Echoes” é, de fato, um bom disco. Falta a ele coesão, mesmo não sendo um álbum muito longo; mas há lá canções melhores, ou no mesmo nível de House Of Jealous Lovers, que já era espetacular. Começa com Olio, que já havia sido gravada no primeiro álbum (Mirror, de 99), mas aqui foi transformada num bate-estaca de primeira, conduzida no chimbau, com palmas e sintetizadores oitentais. Heaven, a segunda faixa, remete ao Gang Of Four do começo, sendo, porém, mais tosca, com sua linha de guitarra ultra-aguda e bateria quebrada. The Coming Of Spring, a quinta, lembra o P.i.L. na época do Metal Box, graças à linha de baixo saliente e à batida quase disco. Isso sem falar no tecnopop de Sister Savior, e na faixa-título, com tanto potencial para virar hit quanto House Of Jealous Lovers, que, por sua vez, também entrou no álbum.

A banda erra a mão, no entanto, quando tenta soar diferente do que sabe fazer. Estamos falando do horrendo pseudoblues Open Up Your Heart (que, sendo a terceira faixa, ainda consegue estragar a seqüência do disco), e da infame Love Is All; sem contar com Infatuation, a irrelevante faixa de encerramento.

Se esses maus momentos não tiram o mérito do álbum, também não fazem dele a obra prima que poderia ter sido, e que a imprensa musical precipitadamente considerou. Talvez o Rapture não seja uma banda de álbuns, e sim de compactos - isso só o tempo vai dizer. Resta saber se daqui pra lá a mídia vai continuar dando à banda a mesma atenção. É ver para crer.

H.

escrito por Haymone Neto | 16:29 |


segunda-feira, janeiro 12, 2004  

A morte da filha de Jimmy Marcus

Este texto comenta detalhadamente uma cena chave do filme Sobre Meninos e Lobos. Convém então a quem não viu o filme não lê-lo.

Foi muito estranho: fui assistir a Sobre Meninos e Lobos com dona Ilka, seu Wilson, Rodolfo e Amanda. A opinião foi unânime: todos acharam o filme do caralho, foderoso, sem um cocô de louro pra falar mal. Sendo os gostos do grupo bastante diversos, fiquei com essa impressão de que seria um daqueles filmes que fazem sucesso com todos, atingindo os mais diferentes paladares cinematográficos.

Já chegando no Siribatorofolia (cachaça de aniversário de Siri e Batoro) encontrei foi o oposto: nenhuma das pessoas com quem comentei o filme havia gostado dele. Investiguei melhor o caso com alguns, a saber Alexandre, Diogão e Didi, que me disseram que tinham-no achado chato, monótono, pedante.

Estava então pensando no causo um dia destes, no chuveiro, e me deu aquela vontade de compartilhar com eles a minha admiração pelos primeiros cinquenta minutos de filme, sair destrinchando aquela construção da tragédia que foi a morte de Katie Marcus, filha de Jimmy. Não que o resto seja ruim, longe disso, mas esse começo é foda demais.

Foi o gênero de suspense, mais especificamente Alfred Hitchcock e Brian de Palma, que despertaram minha paixão não apenas pelo cinema, mas pelo fazer cinema, pelo modus operandi da coisa. Os filmes deles contam, na maioria das vezes, com cenas de suspense fechadas em si: têm uma situação com começo (a fonte de tensão é revelada), meio (a tentativa de eliminar a fonte de tensão, geralmente planejado como uma linha ascendente da tensão) e fim (a fonte de tensão foi eliminada ou conseguiu cumprir seu objetivo, que é quando a tensão atinge seu ápice e cessa).

Fontes de tensão geralmente estão ligadas ao perigo físico - o fio do elevador vai quebrar; o tubarão está chegando perto; a bomba vai explodir - mas algumas vezes são mais sutis, ligando-se a perigos psicológicos ou sociais - o mordomo está se despedindo da governanta sem conseguir colocar pra fora o amor que sente por ela, mesmo sendo esta a última vez que ele a verá; o professor de carpintaria descobre que um de seus aprendizes é o assassino de seu filho recém saído da prisão.

É evidente que a construção de uma cena eficiente do primeiro tipo requer menos esforço que uma do segundo: o bebê está correndo em direção à pipa que caiu no meio da auto-estrada enquanto um caminhão gigantesco e veloz está vindo da curva adiante. Priu. Temos uma cena de suspense sem nem sabermos quem é o bebê nem o motorista do caminhão nem mais nada. A iminência do perigo físico atinge diretamente nosso instinto de auto-preservação e já estamos nos encolhendo sem perceber.

Já a tensão psicológica ou social necessita de toda uma construção adicional para inserir o espectador no ambiente, fazê-lo reconhecer tudo que está em risco diante do perigo: teremos que saber todo o histórico do amor contido do mordomo pela governanta para apertarmo-nos na cadeira durante a despedida final deles.

Tudo isso é pra comentar a morte da filha de Jimmy Marcus, um exemplar do segundo tipo de cena de suspense e uma das mais épicas e ao mesmo tempo mais sutis que eu já vi. Épica no sentido que todo o filme conspira para a construção da tensão, todas as personagens e ambientes, por mais afastados que estejam da personagem e de sua linha de história. Épica também por causa da sua duração, tomando os primeiros cinquenta minutos do filme numa reta constantemente ascendente de tensão. Já o sutil é pela própria construção da cena, onde nada é dito, mas apenas intuído a partir de sinais o mais discretos possíveis.

Logo no começo é estabelecida a relação entre pai e filha, Jimmy e Katie: são extremamente afetuosos um com o outro e trocam ainda um olhar estranhamente demorado na saída da filha da loja (que poderia muito bem ser tomado como um olhar de despedida pré-morte, numa súbita e troncha premonição; mas logo depois vemos que ela está é se preparando para fugir com o namorado). Nada mais é dito sobre o ambiente familiar.

Temos então a despedida dela com as amigas, todas bêbadas e dançando no balcão de um bar cercadas por comentários machistas, inclusive de Dave, o amigo problemático de Jimmy. Ela sai sozinha do bar. Dave chega em casa banhado em sangue, acha que matou alguém, um bandido. E ele tem um passado de complicações psicológicas. Quando Katie não volta pra casa e não há nada sobre morte de um bandido no jornal, a hipótese da morte (assassinato) dela começa a se concretizar.

E é só a partir daí, surpreendentemente, que começa a construção do ambiente familiar: mostrar as preparações do batizado, a importância de Katie estar presente lá etc. Não apenas o impacto da morte (quando ela se concretizar) cresce a partir do conhecimento do contexto da família - como n'O Quarto do Filho, por exemplo - mas também a tensão advinda de percebermos pouco a pouco o quão impactante será essa morte sobre a família, principalmente sobre Jimmy, se ela realmente tiver acontecido.

E essa tensão passa a ser alimentada por sutis estranhamentos em Jimmy, como quando ele liga para as amigas da filha, quando rastreia o paradeiro dela na noite anterior, quando olha em volta na igreja, quando ouve sirenes e troca olhares de preocupação. Não há histeria por parte dele, só essa leve preocupação, quando então a apreensão não pode nem ser dividia com a personagem, ficando inteiramente nas costas do espectador com seu maior conhecimento sobre o que aconteceu na noite anterior, embora que ainda duvidoso. Chega a doer de tão elegante, eficiente e sóbria a construção.

É quando a morte é confirmada pelo policial, Sean. Sabemos qual será o impacto sobre a família e principalmente sobre Jimmy mas, insatisfeito, o diretor ou roteirista irá levar a tensão ao extremo brincando agora com a forma com a qual Jimmy vai conhecer a morte da filha, que será a pior possível: ele conseguirá, a despeito dos pedidos silenciosos deste espactador para que a polícia segure ele, depois de muito jogo de cintura, chegar até o corpo da filha dobrado embaixo do tronco dentro do lago seco do parque.

Se aquela cena em que ele urra de dor com trinta policiais em cima dele pareceu cinematograficamente dramática vista no trailer, terá agora, ao final dos primeiros cinquenta minutos de filme, total justificativa. E o caminho para mostrar as seqüelas e conseqüências da morte estará completamente preparado. Palmas para Eastwood.

escrito por Chico Lacerda | 02:59 |


sábado, janeiro 10, 2004  

Frank Black depois de muito tempo

É interessante reaproximar-se de algumas obras depois de algum tempo. Acontece principalmente com filmes: certas piadas e sutilezas que passaram batidas quando você era pirralho são captadas; certas situações são finalmente compreendidas com o coração ao invés de apenas com a cabeça, por causa de uma maior vivência; outras situações que eram tocantes ao extremo começam a parecer excessivamente dramáticas, artificiais. Com livros isso nunca me aconteceu, até porque eu tenho um problema sério com releituras: como tomam-me muito mais tempo que filmes, não consigo aceitar estar relendo um livro quando há mais inéditos no mundo do que eu vou conseguir ler em toda a minha vida. Mas acontece também com música.

Peguei pra ouvir essa semana um par de CDs de Frank Black, os dois primeiros: o auto-intitulado Frank Black e o Teenager of the Year, de 1993 e 1994 respectivamente. Isso depois de bem uns 8 anos sem tirá-los da caixa. E aconteceu essa coisa que olhar a obra com novos olhos (ouvidos, no caso), captar um tanto que passou batido então.

Na época eu tinha recém descoberto o rock 'n' roll , bem mais tarde que todos os meus amigos, resistindo bastante em deixar o reino seguro da música eletrônica que me acompanhou durante a adolescência: Depeche Mode, Tears for Fears, Erasure, Pet Shop Boys, Information Society. Esculhambei muito também o Guns and Roses e passei batido pelos Nevermind e Vs., ocupado que estava com o Achtung Baby e o Out of Time.

Foi o Pixies que mudou essa situação. Obcequei-me por La La Love You, do terceiro disco deles, o Doolittle, achando que era Morrissey. Descobri o engano mas segui em frente. Foi também a época em que eu havia começado a trabalhar e ainda não tinha despesas em casa, quando então boa parte do salário era gasto na Amazon.com e em pouco tempo eu já tinha os primeiros três discos da banda e queria mais. Comprei os dois últimos um pouco depois e parti para os projetos solo dos integrantes (a banda acabou em 91), no caso o Breeders de Kim Deal e o Frank Black, de Black Francis rebatizado.

Talvez essa overdose centrada mais no próprio Pixies tenha ofuscado um pouco o valor dos álbuns de Frank Black, que eu considerava frustrantes em comparação com seus álbuns ainda na banda. E na verdade realmente são obras menores se comparadas com os clássicos Surfer Rosa e Doolittle, mas seguiram apenas a evolução natural já apontada pelos dois últimos disco do grupo, o Bossanova e o Trompe le Monde. A histeria louca do vocal de Black Francis e da guitarra de Joey Santiago junto com o ritmo completamente quebrado da bateria de David Lovering e o acompanhamento estranhamente melódico do baixo de Kim Deal eram apaixonantes e fizeram história, mas se era hora deles mudarem, quem sou eu pra dizer que estavam errados?

O primeiro de Frank Black inclusive mostrou-se muito superior ao último do Pixies, quando sinais de cansaço e repetição já eram perceptíveis. Continuou expandido o estilo único que a banda criou, utilizando-se de uma maior variedade de instrumentos e liberdade de arranjos, explorando novos territórios com resultados sempre excelentes e chegando até a compor uma obra-prima chamada Two Spaces que entrou pra uma das várias listas (infantis, eu sei) que mantenho aqui no quadro de avisos do meu quarto: "as músicas mais bonitas de todos os tempos", "as músicas mais empolgantes de todos os tempos", "as músicas mais dançantes de todos os tempos"; ela entrou pra "as músicas mais pops de todos os tempos". Enfim, um artista procurando evoluir e conseguindo, o que na época parecia apenas mais um chato deixando de fazer o tipo de música que eu gostava e queria ouvir.

P.S.: quem quiser baixar a citada Two Spaces, disponibilizei aqui.

escrito por Chico Lacerda | 00:15 |


sábado, janeiro 03, 2004  

Cinema em 2003

O melhor filme de todos:

O Filho - Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne

Filmes absurdamente bons:

Ônibus 174 - Felipe Lacerda e José Padilha
Edifício Master - Eduardo Coutinho
Por um Sentido na Vida - Miguel Arteta
Adaptação - Spike Jonze
Waking Life - Richard Linklater
A Agenda - Laurent Cantet
A Viagem de Chihiro - Hayao Miazaki
A Última Noite - Spike Lee
Longe do Paraíso - Todd Haynes
Elefante - Gus Van Sant
Sobre Meninos e Lobos - Clint Eastwood

Filmes absurdamente ruins:

Jalla! Jalla! - Josef Fares
As Horas - Stephen Daldry
Chicago - Rob Marshall
Cama de Gato - Alexandre Stockler
A Teia de Chocolate - Claude Chabrol
Matrix Reloaded - Andy Wachowski e Larry Wachowski

escrito por Chico Lacerda | 02:37 |
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