![]() |
![]() |
O Sítio Aquele velho projeto de fazer um fãzine com os amigos... |
![]() |
![]() segunda-feira, outubro 27, 2003 O Homem Duplicado - José Saramago Em primeiro lugar, uma crítica às críticas: não sei onde apareceu primeiro, mas existe esta história de que esse livro é uma crítica "aos aspectos mais desumanos da sociedade global, que, em sua ânsia uniformizadora, dissolve as singularidades numa cultura pretensamente universal." Esse frase foi tirada da orelha do livro, mas aparece também em todas as críticas sobre a obra em questão que eu pude ler. O livo é sobre esse homem que descobre, ao assistir um filme, um ator secundário que é igual a ele. Começa então uma investigação obssessiva até encontrar o tal e perceber que realmente os dois são iguais e daí parte para crises e confusões cada vez mais sérias entre os dois. Sim, um homem descobre-se não único e sua identidade entra em crise, mas para deste único ponto de contato querer-se uma crítica ao mundo globalizado e baboseiras tais é ridículo. É como dizer que o Senhor dos Anéis é uma crítica aos EUA pós 11 de setembro. Foi justamente a idéia que todas as críticas engoliram sem qualquer contestação, como se vinda num manual de interpretação anexo ao livro. Junte-se a isso o fato de Saramago ser considerado um escritor inteligente, inteligência esta definida na era pós-James Joyce como capacidade de distanciar o máximo possível o que se quer dizer do que se diz realmente, que então nós temos o circo armado para alimentar e até exigir dos autores estas teorias mirabolantes com o fácil e infalível argumento para seus detratores de que quem não concorda é porque não captou a mensagem. Finalmente, ao livro. Da mesma forma que em Ensaio sobre a Cegueira, Saramago parte de uma premissa absurda (um surto contagioso de cegueira no Ensaio - uma crítica à sociedade atual onde todos parecem estar cegos, bradaram os críticos à época do lançamento - e dois homens idênticos neste) e começa a desenvolver as reações que essa premissa causará no mundo atual, seja no âmbito de uma cidade, no Ensaio, seja na vida dos dois homens envolvidos, neste mais recente. Se no Ensaio esse método de criação funcionou de forma perfeita, até porque havia muito o que ser desenvolvido, neste o resultado foi na melhor das hipóteses desinteressante. Não havia história para um romance - no máximo para um conto, e um não muito grande - e o que parece é que a história vai pra frente apenas a cada cinquenta páginas, e entre um e outro passo é só descrição óbvia do que obviamente leva de um para o outro. No final a coisa piora um pouco e perde até a cara de realidade, dando lugar a reviravoltas à mão pesada dignas de Supercine. Se há uma coisa positiva na obra é a prosa de Saramago. Ao mesmo tempo extremamente rebuscado e de uma leveza fora do normal, o texto é quase todo corrido, sem divisão de parágrafos e até de frases, mesmo nos diálogos. Com um excesso feliz de auto-referências, o narrador se torna um personagem ele próprio, analisando, criticando e profetizando em cima do enredo, quase como numa conversa com o leitor. Só é uma pena que na falta de uma história mais forte e interessante, a prosa se torne uma atração por si só e não como veículo do conteúdo. escrito por Chico Lacerda | 21:24 | Annie Hall - Woody Allen ![]() Primeira grande qualidade do filme: humor e inteligência juntos, muito de ambos. Woody Allen juntou sem medo montes de montes de referências culturais com os diálogos cínicos e certeiros típicos do personagem que ele iria repetir à exaustão em outros filmes. É um filme erudito em suas citações e piadas e que ao mesmo tempo despreza toda forma de erudição gratuita: "Esse é o professor da cadeira de Literatura Russa, aquele é o professor da cadeira de História da Arte, aquele outro é o professor da cadeira de Visão da Civilização Ocidental Contemporânea...", ao que Alvy responde "Com mais dois teremos uma sala de jantar.". ![]() Terceira e maior qualidade do filme: fala sobre relacionamentos da forma mais sincera, real e carinhosa possível. O título em português, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, desvirtua completamente a história. Não é sobre casamento, é sobre namoro. É sobre conhecer, gostar, conviver, viver, crescer, aturar, deixar de gostar, sofrer, querer voltar, poder voltar, não poder voltar. Esgota o tema de forma precisa e brilhante. ![]() Ganhou o Oscar de melhor filme em 1977, mesmo ano em que concorreu Guerra nas Estrelas. Hoje provavelmente o resultado seria diferente. escrito por Chico Lacerda | 15:46 | |
![]() |
|
![]() |
![]() |
|||||||||||||
![]() |
![]() |
||||||||||||||||
![]() |