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sábado, maio 24, 2003 Ventura - Los Hermanos, primeiras impressões * É mais complexo, de mais difícil digestão. Causa muito estranhamento a princípio, e isso é bom. * É mais lento que o anterior e bem mais lento que o primeiro. Tem menos distorções de guitarra. * Tem um encarte lindo. * Está mais fácil de reconhecer qual música/letra é de Rodrigo Amarante - 5 do total - e qual é de Marcelo Camelo - as 10 restantes. * O jeito de Amarante cantar está praticamente igual em todas as músicas que ele canta, e isso é ruim. Ele canta de um jeito legal, melancólico, nostálgico, mas a repetição não é legal. * Apenas duas música tem refrão ou algo parecido com, e isso é bom. * A minha predileta, até agora, é O Pouco que Sobrou. * Além do que se Vê é a única que dá vontade de pular para a seguinte, e não somente porque a seguinte é O Pouco que Sobrou. * O fato de O Pouco que Sobrou, Conversa de Botas Batidas e Deixa o Verão estarem em sequência é muito bom. * O coro no final de Conversa de Botas Batidas, dependendo do ponto de vista, pode ser considerado brega ou tocante. Eu fico com o segundo. * A letra de Deixa o Verão é inventiva, divertida, gostosa e pode ser representada pelo trecho "E assim a gente não sai, que esse sofá tá bom demais! Deixa o verão pra mais tarde...". escrito por Chico Lacerda | 00:08 | sexta-feira, maio 16, 2003 Carandiru - Héctor Babenco Fiquei muito feliz em ver antes de ontem, meio de semana, várias semanas após o filme Carandiru ter estreado, a sala 1 do Multiplex Tacaruna lotada de gente para ver um filme brasileiro, mostrando uma já há algum tempo crescente quebra do preconceito contra esses filmes no público médio de cinema. Percebo no público, ao contrário, uma ânsia em assistir ao filme-evento do momento, como se assistir a cinema brasileiro estivesse na moda. Sorte de todos quando temos um filme-evento como Cidade de Deus. Menos sorte quando esse filme é Carandiru.
É um filme com as melhores e mais nobres intenções, disposto a dar voz e imagem a personagens marginais e mostrar um trágico acontecimento que muitos prefeririam deixar esquecido, mas tem equívocos sérios em sua execução, sendo os principais deles os diálogos e as atuações. Foi baseado no livro do médico Dráuzio Varela, que passou um período trabalhando no presídio Carandiru e coletou, a partir da convivência com os detentos, inúmeras histórias tanto de fora quanto de dentro do presídio. Foram então selecionadas e representadas algumas das histórias, sendo a famosa rebelião e posterior massacre dos detentos às vésperas da eleição de 1992 o fechamento e clímax de todas. A representação verossímil e autêntica desses eventos, necessária ao enfoque dado ao tema, esbarra em diálogos sonoramente irreais, caindo em vícios antigos do cinema brasileiro como o que confunde palavrão com linguagem da rua (Nego Preto falando três "porra" e um "caralho" numa frase só, logo no comecinho do filme, por exemplo); ou, ao contrário, frases de português gramaticalmente perfeito (vários "vamos" no lugar de "vamo"; plurais nos lugares correto); ou ainda frases feitas e/ou totalmente cinematográficas, a maior parte dita por componentes da brigada de choque num humor e cinismo dignos dos vilões de filmes de ação hollywoodianos. Junte-se a isso atuações irregulares, algumas competentíssimas (Maria Luiza Mendonça como Dalva, Milhem Cortaz como Peixeira, Aída Leiner como Rosirene, Aílton Graça como Majestade, Rodrigo Santoro como Lady Di), outras de uma artificialidade de novelas da Globo (Milton Gonçalves como seu Chico, Antônio Grassi como o diretor, Caio Blat como Deusdete, Floriano Peixoto como Antônio, Ricardo Blat como Claudiomiro), a atuação andróide do ano, Luiz Carlos Vasconcelos como o próprio Dráuzio Varela e ainda uma total falta de controle sobre ritmo e tensão na derradeira invasão do presídio, que temos então a imersão no ambiente do filme totalmente comprometida, como um letreiro "ISTO É UM FILME" piscando na tela a cada cinco minutos. Grande parte do mérito do filme - e o que consegue torná-lo um filme muito bom, apesar de tudo - vem das próprias histórias do livro, aproximando o espectador da humanidade dos detentos e aumentando em muito o impacto do desfecho, não fossem os problemas citados. E isso tudo só vem a ratificar a grande competência por trás de filmes como Cidade de Deus e O Invasor, que além da inovadora retomada da abordagem de temas marginais do atual panorama social brasileiro, fazem-no com raro talento e eficiência em todos os aspectos que compõem a arte cinematográfica. Estes sim, mereciam concorrer à Palma de Ouro. escrito por Chico Lacerda | 09:39 | quarta-feira, maio 14, 2003 O Macaco 1 Ana enfiou a mão na buzina com vontade. À sua volta tudo eram carros. Um mar de carros. Havia saído para o almoço não tinha nem quinze minutos. Passara dez destes à procura de uma vaga para estacionar no quarteirão do restaurante vegetariano onde comia a contragosto havia já seis meses, só impelida a continuar pelo prazer que lhe causava sua silhueta no espelho todas as noites. Era gostosa, sabia disso e queria continuar assim. Novamente desceu a mão na buzina, dessa vez longamente. O horizonte de carros parados tremeluzia ante o calor do meio dia. Seu carro, pouco a pouco, tornava-se uma sauna, vidros fechados e a porra do ar-condicionado quebrado. Desde o dia em que um pivete lhe havia colocado uma garrafa na garganta que ela só trafegava pelo centro de vidros fechados. A raiva surgida da impotência no assalto lhe atormentara o sono uma semana inteira. Quando finalmente encontrara uma vaga, bem em frente ao restaurante, o celular havia tocado. Banco de dados fora do ar, fim de prazo, os clientes estão loucos, volte já! Os filhos da puta sabiam que isso ia acontecer, a máquina não daria conta do tranco e eles haviam sido avisados. E agora a otária aqui tinha que abortar o almoço para dar conta dos bancos saindo do ar a cada cinco minutos. E presa neste engarrafamento infernal, tentando voltar ao local de trabalho, o corpo em brasa, ensopada de suor, linhas verticais de maquiagem escorrida no rosto. Comprimiu a buzina novamente, desta vez pelo que pareceu uma eternidade, a consciência se perdendo no coro de buzinas que pouco a pouco se juntou à sua. 2 Novamente o sinal se fechou e a marcha lenta das caixas metálicas ao sol cessou. Os pivetes limpadores de pára-brisa começaram a passear entre os carros, procurando as melhores vítimas. Ana se pôs na defensiva pois, como mulher, geralmente era escolhida. Um deles veio pelo corredor à esquerda de seu carro, olhando sorrateiro para os ocupantes dos veículos e atirando água esporadicamente em um ou outro carro, medindo o grau de resistência das pessoas ante o serviço não solicitado. Fitou Ana à distância e começou, matreiro, o percurso até seu carro. Já de longe Ana pôs o dedo em riste e começou a balançar o braço numa ferrenha negativa que dispersou o garoto. Aprendera a ser enérgica com esses parasitas. Limpar pára-brisa de carro, isso lá era trabalho? Dela é que não tirariam um centavo. Avistou outro vindo desta vez da sua direita, e repetiu o gesto. O moleque captou a negativa e, discretamente, fingiu olhar para outros carros embora continuasse vindo em sua direção. Ana continuou a balançar os braços na negativa, vamos ver quem desiste primeiro, seu filho da puta dissimulado, até o garoto estar a pouco mais de um metro do seu carro. Finalmente travando os olhos nos dela ele maneou a cabeça, cínico, como quem pergunta se quer que limpe o pára-brisa, ao que ela ampliou os gestos, esboçando também um grande NÃO com os lábios. Como quem não entende, perguntou novamente com a cabeça, quer que eu limpe, e ela, já furiosa, bateu com ambas as mãos no painel do carro, soltando um NÃO! audível até mesmo do lado de fora. Os olhos se confrontaram por alguns segundos, medindo forças, até que o garoto, olhando para outro lado, continuou seu caminho com passo malandro. Ana acompanhou sua trajetória através do espelho retrovisor até que ele estivesse a uma distância segura, não se pode baixar a guarda um segundo com esses sanguessugas. Só então voltou-se para a frente, ofegante mas atenta a outros moleques que porventura pudessem surgir. Mas, para seu espanto, o ataque foi pela retaguarda: pelo espelho retrovisor ela viu, perplexa, o mesmo garoto que alguns segundo antes havia passado por ela lavando tranqüilamente seu vidro traseiro e... rindo?!? 3 Ela já havia lido em algum lugar sobre um clique que as pessoas ouvem dentro da cabeça em situações limite. Lembrou disso no momento em que percebeu que algo se havia alterado em suas percepções. Tudo parecia mais nítido, mais límpido. Seus gestos pareciam mais suaves, fluidos, como se o tempo passasse mais devagar. Nem precisou dos olhos quando uma de suas mãos se esticou até o pesado macaco de ferro que havia sido usado na troca de um pneu algumas noites antes e que ainda jazia aos pés do banco do passageiro. Se impressionou com a facilidade com que o tomou nas mãos, leve que estava. Será o clique? Abriu a porta do carro e contornou seu lado esquerdo até estar quase ao lado do pivete. Este, ainda limpando o vidro, esboçou por menos de um segundo uma expressão divertida, de quem pergunta o que porra essa mulher está fazendo aqui fora. Mas foi muito rápido, pois logo seus olhos de fundo muito branco, já destacados naturalmente no rosto pela cor escura de sua pele, se destacaram ainda mais, arregalando-se de surpresa. E de medo. Foi um pensamento muito rápido, mas se ela tivesse que guardar qualquer coisa desse acontecimento, seria esse olhar no moleque. Ana viu mais que sentiu suas mãos descerem com vontade, o pesado macaco de ferro fazendo nariz, dentes e ossos afundarem na cabeça do moleque, que caiu no chão com guinchos sufocados. Levantou novamente as mãos acima da cabeça e desferiu outro golpe, espalhando mais sangue e migalhas de ossos pelo chão. No terceiro golpe, massa encefálica já escorria da polpa sangrenta que havia sido uma cabeça até pouco tempo atrás; no quarto, não havia mais sinal de resistência e em algum lugar entre o quinto e o décimo segundo golpes qualquer sinal de vida no garoto desaparecera. 4 O mundo exterior começou a voltar gradualmente e logo um turbilhão de sons, cores, cheiros e sensações assaltavam-na - carros, buzinas, calor, sol, asfalto, sangue. Tinha as mãos ferradas em volta do macaco banhado em vermelho, braços doloridos, respiração ofegante. A tensão começou a se dissipar em forma de lágrimas, que então já caíam-lhe livremente enquanto seu corpo se contorcia em soluços. Viu com o canto do olho um outro pivete se aproximar, a princípio cauteloso mas logo com fúria, ao perceber os detalhes da cena. Ela encolheu-se, indefesa, mas dois policias, que saíram de uma viatura também perdida em algum lugar do engarrafamento, agarraram o moleque no ar, levando-o subjugado ao camburão. Outros dois policiais aproximaram-se dela solícitos, examinando a cena enquanto lhe dirigiam perguntas e palavras de conforto, bem?, médico?, assalto?, armados? Vendo que ela não estava em condições de responder ao interrogatório padrão, deram-na o endereço da delegacia para que passasse lá mais tarde para prestar a queixa, se fosse de seu interesse. Sabiam que a maioria das pessoas não fazia isso, sempre duvidando a eficácia da polícia, que mesmo no estado que se encontrava tinha lá seus méritos. Colocaram-na no carro e ela deu partida, ainda entre soluços, surpresa com o engarrafamento que se dispersava rapidamente. Abriu uma fresta da janela e sentiu uma brisa fresca soprando-lhe o rosto. De repente toda a tempestade que se formara acima de sua cabeça desde que fora arrancada do almoço para resolver os problemas na firma começou a se dissipar. Com a esperança renovada e um sorriso nos lábios, partiu para resolver qualquer problema, superar qualquer obstáculo que lhe impusessem. Confiava de novo na vida. escrito por Chico Lacerda | 09:05 | segunda-feira, maio 12, 2003 Reveal vs. Up ![]() Ouvi recentemente, depois de algum tempo sem pegar nele, o álbum Reveal, do R.E.M. Na época em que foi lançado tinha-me parecido um ótimo álbum, principalmente depois do fraco Up, mas minha opinião sobre ambos mudou.
O grande problema do Up, além de um grande estranhamento que ele causou por ser bastante diferente dentro da discografia do grupo, foi ter sido lançado depois do CRÁSSICO New Adventures in Hi-Fi, este sim sério concorrente a melhor álbum do R.E.M. O Up se tornou então uma decepção em comparação. Já lançado o Reveal, gostei de cara: tinha elementos mais novos à carreira da banda que já haviam sido processados por mim através do Up e ao mesmo tempo trazia também coisas mais antigas e reconhecíveis do R.E.M. Já esta ouvida recente do Reveal me trouxe impressões completamente diferentes: pareceu-me raso, sem vida, plástico demais. Em comparação com o Up, o Reveal realmente volta a melodias mais simples e num formato mais reconhecível, mas agora sem a alma e a emoção encontrada em toda a discografia do grupo até então. Nos primeiros álbuns da banda (1981 - 1985) estas eram características marcantes: simplicidade de arranjos (baixo, bateria, guitarra e vocais simples na estrofes e mais complexos nos refrões, com várias vozes entrecortando-se), empolgação nas músicas animadas (Shaking Through, Pretty Persuasion, Driver 8), beleza e emoção nas mais lentas (Perfect Circle, Wendell Gee), melodias simples, grudentas e preciosas. As letras ainda andavam pelo campo do nonsense, dando responsabilidade total às melodias para passar o que passavam. A partir do Life's Rich Pageant, quarto álbum da banda (1986), eles começaram a elaborar nos arranjos e também nas letras - mais compreensíveis - sem perder a mão dos outros elementos, chegando ao ápice desse processo no Automatic for the People (1992), o álbum mais barroco deles nesse sentido e também um dos mais carregado de emoção. O Monster, em seguida, resgatou a tradição rocker do Green e logo veio o New Adventures in Hi-Fi (1996), que conseguiu agregar todos os elementos da carreira da banda em um só álbum, produzindo uma obra prima. Com a saída de Bill Berry, baterista da banda, eles resolveram experimentar no álbum seguinte, o Up, um disco totalmente voltado para climas. As melodias se tornaram mais abstratas, criando climas geralmente melancólicos - algumas vezes otimistas (Hope, Suspicion, Falls to Climb), muitas vezes pessimistas (The Apologist, Sad Professor, You're in the Air, Diminished) - ou de uma beleza simbólica, etérea (Airportman, Why Not Smile, At My Most Beautiful). As músicas menos abstratas, mais dentro do formato R.E.M. e tão boas quanto as outras, foram as que viraram singles (Daysleeper, Lotus). E esses climas, auxiliados por grandes letras, trazem consigo uma grande carga emocional, essa melancólica beleza ou belíssima melancolia citada. E é exatamente esse o ponto mais negativo do Reveal, a falta de alma, emoção nas músicas. A banda voltou aos arranjos e melodias mais convencionais mas com muito pouco sentimento. Não que essa esterilidade emocional seja ruim; Stereolab e Kraftwerk, por exemplo, são totalmente nulas no quesito emoção e são grandes bandas mesmo assim. O problema é que no R.E.M., essa característica de músicas tocantes, emocionantes, dilacerantes em alguns casos (Country Feedback, E-bow the Letter, Nightswimming, Half a World Away) é uma das grandes senão a maior qualidade e diferencial da banda. Se o Up foi fraco em comparação com o New Adventures mas mesmo assim ainda foi um ótimo álbum, o Reveal foi fraco em comparação com o Up e por pouco não chega nem a ser um bom álbum. Espero que isso mude com o próximo álbum. escrito por Chico Lacerda | 11:34 | quinta-feira, maio 08, 2003 Amor à Flor da Pele - Wong Kar-Wai Li hoje que o cinema da Fundação Joaquim Nabuco, em comemoração aos seus 5 anos, terá no próximo fim de semana e semana uma programação especial de filmes que trará, dentre outros, o Amor à Flor da Pele. Aproveito então para falar sobre este que é um dos filmes da minha vida e tentar motivar alguém que leia isto a ver ou rever esta grande obra. Será mostrado em sessão única, segunda-feira, 12 de maio de 2003, às 18:30. Isto dito: Wong Kar-Wai é um cineasta único em seu estilo impressionista de filmar. Tomando emprestado a definição da pintura impressionista, onde a obra se mostra apenas em sua totalidade, sendo uma soma de partes aparentemente sem sentido (pinceladas grossas, pouca definição das imagens), os filmes do diretor empenham-se em produzir um resultado final a partir de suas partes, mas sem preocupar-se muito em dar sentido a essas partes separadamente. O primeiro filme dele que eu vi - e o mais radical nesses termos - foi o Anjos Caídos, de 1995, que segue quatro diferentes personagens na contemporânea Hong Kong. São cenas dessas vidas enfocando muito mais climas e sensações do que enredo, e fazendo para isso uso de inúmeros tipos de filmes (8mm, 16mm, 35mm, vídeo), fotografias (variações de contraste, granularidade, cores), ritmos (câmera lenta, acelerada, congelamento, saltos para frente e para trás no tempo) e trilha sonora. Esse apanhado de situações e climas, apesar do interesse e fascínio que causam, também confundem dada a aparente falta de lógica ou ligação entre si, e é só no final que o sentido de tudo começa a ficar mais aparente a partir de uma cena ou frase derradeira que engloba o tema ou idéia por trás de todo o resto. Se me perguntarem o enredo do filme, não vou saber dizer nada além de que é sobre solidão urbana, uma poesia sobre a solidão urbana, mais especificamente. Belíssima, por sinal.
Amor à Flor da Pele, de 2000, continua com os tons impressionistas do autor, mas num enfoque completamente diferente. Conta a história de dois vizinhos de pensão numa Hong Kong dos anos 60 que aproximam-se ao desconfiar que os respectivos cônjuges estão tendo um caso. Não querendo envolver-se, para não rebaixarem-se ao que tanto criticam, lutam contra a tensão sexual que inevitavelmente cresce junto com a crescente intimidade e cumplicidade entre eles.
O mosaico formado por ladrilhos de cenas estranhas entre si de filmes anteriores deu lugar a uma tela enfumaçada a partir da qual, da mesma forma que anteriormente, só se tem impressões da história. Neste filme nada é dito, mas apenas sugerido; a história não é contada e sim evocada de forma discreta e poética e produz ao seu final uma das mais dolorosamente românticas histórias de amor. Experimentações anteriores mais radicais deram lugar a uma fotografia constante, favorecendo a qualidade poética do filme com imagens etéreas, indefinidas, ajudada por uma trilha sonora incidental onírica. A cenografia chega a ser barroca por seu cuidado com detalhes, dando ao filme uma elegância surreal e entrando no terreno de ficções ultra-românticas de Humphrey Bogarts e Ingrid Bergmans ao som de Nat King Cole cantando boleros em espanhol e ainda sim mantendo os pés no chão no que diz respeito a sentimentos, numa fascinante contradição.
É na última cena, seguindo a tradição do diretor, que o sentimento geral do filme - aquele que perpassa cada cena - é salientado e reafirmado, fechando a obra com a unicidade finalmente atingida. Bem como o coração, talvez seu alvo principal. escrito por Chico Lacerda | 19:55 | |
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