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O Sítio Aquele velho projeto de fazer um fãzine com os amigos... |
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![]() sexta-feira, dezembro 27, 2002 Os cinco mais de 2002 Aqui vai a lista dos cinco discos preferidos do ano. Normalmente são dez, mas eu tou sem saco de escrever sobre o restante e ficou em Top Five mesmo. Se der, depois eu escrevo sobre o restante. Como de costume, os discos não são os que foram lançados no ano mas os que eu ouvi este ano. Por isso, provalvelmente o Underworld vai ficar nos 5 (ou 10) mais de 2003, já que não baixei o disco novo ainda esse ano e não pretendo fazer o download (ou comprá-lo) até o início de 2003. The Strokes - Is This It -> Todo mundo já ouviu esse disco desde o ano passado, mas eu só vim conhecê-lo neste ano. Um dos pouquíssimos discos onde todas as músicas estão entre muito boas/excelentes (completam a seleção Nevermind, do Nirvana; Signals, do Rush; Violator e Music For The Masses, do Depeche Mode; Raise e Mezcal Head, do Swervedriver). Achei muito estranho desde o começo do hype em cima dos Strokes o fato de serem rotulados como "o futuro do rock" ou "a última esperança do rock". Podem até não serem isso, mas o disco é simplesmente fantástico, literalmente. É um som básico, puro rock, mas que os arranjos e a voz de Julian Casablancas fazem a maior diferença. As minhas músicas preferidas são: "Hard To Explain", "Alone, Together" e "The Modern Age". Ladytron - Light And Magic -> O quarteto eletrônico de Liverpool, terra dos Beatles, foi a melhor supresa do ano. Apesar de serem rotulados como líderes do movimento electro, os próprios integrantes fazem questão de afirmar que não são pioneiros de tendência alguma e que apenas querem relembrar o velho tecnopop/synthpop dos anos 80. Light And Magic é a maior prova disso. São várias músicas incrivelmente pop, daquelas de grudar na mente logo na primeira audição. É o caso de "Evil", a melhor faixa do disco. Martin Gore ou Vince Clarke provavelmente teriam muito orgulho de escrever uma música como essa: refrão matador, melodia belíssima, vocais femininos como devem ser - bem suaves, quase sussurando - e uns barulhinhos legais durante a música que fazem a maior diferença. Ladytron - 604 -> O primeiro disco do Ladytron é menos elaborado mas quase tão pop quanto o Light And Magic. A sonoridade do disco é mais puxada pro Kraftwerk ("He Took Her To a Movie" é idêntica a "The Model"), ao contrário do seu sucessor, que assume um som a la Depeche Mode. No entanto, o maior mérito da banda é soar nova e única. Por mais que lembre o som de uma banda ou outra, o Ladytron tem identidade própria, fato raro em si tratando de uma banda synthpop. Os grandes destaques desse disco é a citada "He Took..", mais "Ladybird", "This Is Our Sound" e "Another Breakfast With You". Foo Fighters - One By One -> Esse disco consolidou minha preferência definitiva do FF no lugar do Nirvana. Embora o Nirvana tenha feito um dos melhores discos que já ouvi até hoje, sua discografia é muito irregular. Bleach tem músicas legais como "About A Girl" e "Negative Creep", mas no geral é chato e repetitivo. Incesticide é muito bom, mas tem umas músicas intragáveis como "Aerozeppelin" e "Mexican Seafood". In Utero também é legal mas irregular, sem falar que "Gallons..." é uma piada de mal gosto. O FF desde o início soa divertido, talvez pra esquecer a sisudez do Nirvana (leia-se Kurt Cobain). Eu até gostava (e ainda me identifico) com as letras e as atitudes de Kurt Cobain mas hoje eu prefiro o jeito despojado e escroto do Dave Grohl. One by One segue a mesma linha do anterior There´s Nothing Else To Lose, ou seja, uma sonoridade mais acessível e pop, bebendo na fonte de The Police, Van Halen e afins. Os destaques vão pra "Have It All" e "Al My Life". O DVD extra é uma beleza de bonus: The One (da trilha sonora de Orange Crush) em audio, All My Life em video e audio e a tamporosa (pra não dizer outra coisa) Walking A Line em video e audio. Essa inexplicavelmente não colocada no cd. Ainda tem uns videos curtinhos e fotos do FF. Bela maneira de driblar a pirataria. Recoil - Bloodlines -> Segundo disco do projeto de Alan Wilder, ex-tecladista, arranjador e produtor do Depeche Mode. Esse disco é de 92, quando Alan ainda era membro do DM mas já com um pé fora, e conta com participações especiais de Toni Haliday, do Curve e Douglas McCarthy, do Nitzer Ebb, entre outros. Creio ser o melhor disco do Recoil. Os trabalhos posteriores como "Liquid" e "Unsound Methods" dão ênfase a tendência de soar como trilha sonora pra textos de outros colaboradores. Bloodlines tem uma faixa que é tipo um embrião dessa tendência: Electro Blues For Bukka White. Contudo, essa é o melhor registro dessa sonoridade que Alan tenta implantar nos seus trabalhos. Porém, Bloodlines vai além disso. "Faith Healer" é um rock porradão no melhor estilo Young Gods, "Curse" faz uma perfeita junção entre synthpop e hip hop e "Edge To Life" é uma música que poderia figurar entre as melhores do Curve, se tivesse sido lançada pela banda. No final, o resultado me deixou um pouco triste ao ver o quanto Alan Wilder e o Depeche Mode perderam com a separação. Nem o Recoil e nem o DM foram os mesmos depois disso. escrito por Anônimo | 13:09 | quinta-feira, dezembro 26, 2002 Livros à Venda Depois de uma faxina aqui na minha estante, ajuntei uma pá de livros que estou colocando à venda por precinhos camaradas. A lista dos livros se encontra nesta página aqui: http://users.hotlink.com.br/lfl/livros.html. A maioria está em perfeito estado de conservação. Para quem quiser mais detalhes (além dos que estão na lista), escreva-me no endereço lfl@hotlink.com.br. escrito por Chico Lacerda | 23:51 | segunda-feira, dezembro 23, 2002 Caetano Veloso – Araçá Azul (1972) Nos anos 90, Caetano entrou numa de discos conceituais. O mais recente, “Noites do Norte”, é sobre a escravidão. O “Fina Estampa” era só com canções em espanhol. Tem também uma homenagem a Fellini e Giulietta Masina, gravado na Itália. Enfim, são álbuns que, mesmo não sendo propriamente “conceituais”, estão mais ou menos em torno de um mesmo tema. Araçá Azul é justamente o oposto disso. Cada faixa atira para um lado diferente, e dificilmente uma música se parece com outra. Mas isso é detalhe. Esse é o disco mais radical da carreira de Caetano Veloso, e não é por acaso que foi um dos álbuns com maior número de devoluções na história da indústria fonográfica brasileira. O disco abre com uma espécie de vinheta da sambista e tocadora de prato Edith Oliveira, “Viola, Meu Bem”. Em seguida há o experimento “De Conversa”, que consiste em várias vozes sobrepostas, improvisando no estúdio, com trechos de “Cravo e Canela”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. A terceira faixa é o bolerão “Tu Me Acostumbraste”, de F. Dominguez, que ao meu ver é a melhor canção em espanhol que ele já gravou. A quarta faixa é “Gilberto Misterioso”, co-autoria de Caetano e do poeta maranhense Sousândrade, de quem Caetano roubou alguns versos no fim da música. Consiste na repetição dos mesmos versos ad infinitum. “De Palavra Em Palavra” é impregnada de concretismo (é dedicada ao poeta (?) Augusto de Campos), uma referência bem nítida dessa fase da carreira de Caetano. Mas o grande momento do disco, ao meu ver, é “Eu Quero Essa Mulher”, do sambista Monsueto Menezes, de quem Caetano já havia gravado “Mora na Filosofia”, no álbum “Transa”. Essa música foi adaptada para baixo, guitarra e bateria, talvez o arranjo mais rock n’roll que Caetano já tenha interpretado. Culpa de Lanny Gordin, o guitarrista legendário que ficou mais conhecido por ter acompanhado Gal Costa na turnê “Gal a Todo Vapor”. Lanny já tinha gravado com Caetano no seu segundo disco, de 1969 (é dele a clássica introdução de “Atrás do Trio Elétrico”), mas é aqui que ele mostra porque era considerado um dos melhores, senão o melhor guitarrista daquela época no Brasil. A canção é repleta de solos distorcidos, e Lanny gravou também a guitarra base da música, que é bem característica do estilo dele de tocar. “Sugar Cane Fields Forever” é uma colagem de vários trechos de música de Caetano, e também de outra vinheta de Edith Oliveira. “Júlia/Moreno” é outro experimento na praia do concretismo. “Épico”, por sua vez, deveria ser assinada por Rogério Duprat, que fez o arranjo e inseriu as colagens de sons urbanos na canção. Por fim, “Araçá Azul”, que é talvez a canção mais convencional do álbum, mas nem por isso menos interessante. As referências são muitas. Vão desde Walter Franco e Hermeto Pascoal (que Caetano cita abertamente em “Épico”) às raizes da música brasileira, com Dona Edith do Prato e o samba de Monsueto. Há também as referências poéticas, seja ao concretismo, seja ao romantismo radical de Sousândrade. E não deixa de haver ecos de música erudita moderna, no uso de colagens e ruídos, cortesia do maestro Rogério Duprat. Muitos dizem que esse é o melhor disco de Caetano. Não concordo. É, sim, um grande disco, um dos pontos altos da carreira dele. Mas nenhuma das grandes composições de Caetano estão nesse disco. Mais tarde ele voltaria atrás com “Jóia”, um disco ainda experimental, mas bem mais contido e acessível. Lá em cima eu escrevi que esse não era um disco conceitual. Mas acho que mudei de idéia. Há, sim, uma idéia que perdura por todo o álbum: a de chutar o pau da barraca. E por mais que Caetano tenha tentado fazê-lo outras vezes, com besteiras tipo “Tropicália 2”, ele nunca mais atingiria o radicalismo e a competência de “Araçá Azul”. Clássico. Nota: 9,0 escrito por Haymone Neto | 04:03 | quinta-feira, dezembro 12, 2002 O consumismo tem gosto de McDonald's Os renascentistas acreditavam que o uso da razão e o estímulo à cientificidade libertariam a humanidade da demagogia religiosa, da submissão política, tornaria cada indivíduo cada indivíduo mais autônomo e, por fim, traria o tão esperado progresso às sociedades. Pois bem, eles estavam errados. Totalmente perdidos na História. O desenvolvimento da razão possibilitou, de fato, maior progresso científico. Os séculos XIX e XX são prova disso. Só que ninguém, à época do renascimento, ao tratar da razão, imaginava o efeito avassalador que o mercado faria nas sociedades futuras. Sim, o mercado. Instituição ultra poderosa subsidiada por um sentimento chamado consumismo. Ah, o consumismo... Ele tem, neste texto, gosto de McDonald's. A lanchonete do rock do Ronald promove, às terças e quintas, uma promoção. A pechincha é a seguinte: cheeseburger por $0,99, hamburger por %0,79, entre outros. Mas, veja bem, se o mercado é uma relação entre a oferta e o consumo, e consumidor é aquele que compra para usar, então há algo de estranho no sucesso obtido pela McDonald's. Não existe relação alguma de oferta e consumo, mas, sim, de sutil imposição e dependência. E é claro que ninguém compra cheeseburger para simplesmente usar. É para acalmar o pânico de não poder comê-lo todos os dias, é o vício, é, enfim, o mais novo estado doentil: a síndrome mcdonaldsiana. Eu queria muito saber dançar como o Ronald na propaganda que divulga a música do mesmo. Ou ter um avô bem bonito, legal e saudável que me levasse pra comer sanduíche e achasse lindo eu quere um big mac. Quando eu era menor, um dos meus sonhos era morar nave da Xuxa. Será que o atual sonho das crianças é morar naquele salão de festas da McDonald's? A força de tal lanchonete em minha vida e provavelmente na sua mostra-nos que todo o uso da razão conquistado transformou-se em um absurdo multinacional. A razão, agora, é usada para difundir o irracionalidade. E a formação de dependentes em comida de plástico, refrigerante de detergente e carne de monstro de laboratório. Eu não consigo não apoiar a promoção das terças e quintas. Eu nem sequer penso. Simplesmente gasto meus dois reais em sanduíche, duas vezes por semana, por uma necessidade. Caí direitinho na armadilha deles. "Essa iniciativa do McDonald's tem como objetivo premiar os clientes fiéis e conquistar um público ainda maior de consumidores." escrito por Júlia | 16:03 | sexta-feira, dezembro 06, 2002 Mix Brasil 10 ![]() Na verdade, o festival original é o de São Paulo, onde são exibidas dezenas de filmes, entre longas e curta-metragens, de ficção e documentários, durante treze dias. Em outras cidades (Campinas, Recife, Porto Alegre) é exibida uma versão compacta onde são escolhidos os programas que mais se adequam ao público da cidade. André Fischer, o organizador, falou que o programa Trash-o-rama - de curtas que usam linguagem trash - por exemplo, funciona apenas em Recife, fora de São Paulo. O festival se dividiu entre o cinema do Parque e o do Apolo, com seções a partir das 17h. Só consegui pegar as duas últimas sessões em dois dias e apenas a última na terça feira, por falta de tempo. Dei preferência aos programas de curta-metragens, já que é mais fácil encontrar coisas boas dentre oito ou nove do que em um só (no caso da seção de longa-metragem, quando apenas um filme é exibido). Destaco algumas destas coisas boas: Verdade ou Consequência ![]() ![]() É um filme simples, filmado em vídeo, com iluminação precária mas com ótimos atores, um ótimo roteiro e montagem e cenas eficientes, que conseguem passar toda a delicadeza e emoção da história. Panteras Fora do Armário ![]() Marisa Orth então dá início à sessão, de posse de um gongo no palco, onde começa a passar os primeiros 30 vídeos inscritos. E o público pode intervir, aprovando ou esculhambando com o filme aos gritos, mandando a apresentadora gongá-lo, quando então sua exibição é interrompida, para começar o próximo. ![]() Pois esse filme, Panteras Fora do Armário, foi o filme que ganhou o prêmio do gongo no festival do ano passado, e é hilário! São cenas retiradas de vários episódios das Panteras (bons tempos da Sessão Aventura... :)) e editadas formando uma história lógica onde é colocada uma nova dublagem: depois de dormir com Kelly, Jill resolve assumir-se lésbica. Mas Kelly faz tudo para abafar o caso para não interferir o seu relacionamento com Sabrina, já deteriorado pelos ciúmes das casos que Charlie passa para Sabrina, onde ela tem que seduzir os vilões. Pense que eu ri! Público Alvo É um curta americano de 12 minutos que fez parte do programa Mix Teen, curtas com temática/personagens adolescentes. ![]() E toda vez que o protagonista tenta mudar de canal (ao ver com asco, por exemplo, dois caras se beijando molhadamente), alguma coisa chama sua atenção e ele continua assistinto ao programa. Até que começa a se convencer da teoria e resolve, seguindo as instruções do apresentador, beijar sorrateiramente o amigo que está dormindo ao seu lado. O filme termina de forma hilária, na mesma muito bem bolada mistura de antigos terrores b e atuais programas trash tipo 'a minha vida mudou depois de...', com o amigo que estava presumivelemente dormindo sorrindo de forma matreira depois de ter levado um beijo do outro enquanto o áudio é de um outro filme de terror que está passando na tv: 'Cuidado doutor, tem algo saindo'; 'Oh meu deus, o mostro está solto! O monstro está SOLTO!!!'. O Beautiful ![]() Começa com um cara se arrastando numa plantação à noite, ferido, enquanto outro chega numa caminhonete, para desespero do primeiro. Percebemos que o primeiro foi espancado seriamente por um grupo de estudantes homofóbicos, enquanto o segundo, que estava no grupo de espancadores, voltou para ajudá-lo e mais importante ainda pra ele, tentar conseguir o perdão do primeiro. Exceto pela primeira e última cena, o filme todo é divido em duas telas, cada uma sempre focalizando o rosto de um dos dois protagonistas, conseguindo sempre focar a tensão em cada um deles. Muito bem usado este recurso. É um filme ao mesmo tempo muito tenso e muito delicado, focado exatamente no embate dos dois. Enquanto o agressor tenta se desculpar e ao mesmo tempo defender o seu lado e seus amigos, mais tarde desistindo e fazendo qualquer coisa para receber o perdão, inclusive se deixar beijar e dar sua caminhonete ao outro, o agredido em princípio tenta de toda forma fugir, acreditando estar caindo em mais uma armadilha mas, ao perceber o contrário, direciona toda a sua fúria para o agressor. ![]() Tecnicamente perfeito, com destaque para a fotografia (lembrei dos milharais noturnos de Sinais) e as atuações. A dificuldade técnica que eu mecnionei no começo foi o transformador da máquina que exibe as legendas (as cópias dos filmes não eram legendadas) que queimou e o filme passou algum tempo sem legendas, apesar das reclamações do público. Não conseguindo resolver o problema, os organizadores resolveram pegar o microfone e fazer uma dublagem ao vivo do filme, lendo os diálogos no computador que continha as legendas. Mas, felizmente, o filme era envolvente de tal forma que nem todos estes atrapalhos externos conseguiram tirar seu efeito. Trash-o-rama ![]() escrito por Chico Lacerda | 13:54 | Gal Costa e Caetano Veloso – Domingo (1967) Meu pai sempre diz que gênio só tem um: João Gilberto. Mas eu sou um cara muito limitado. Não consigo considerar gênio um cara que mal compôs em toda a sua carreira. As únicas músicas de João Gilberto que eu conheço e que foram compostas por ele são "Bim Bom" e "Hô-Bá-Lá-Lá. Não ria, é verdade. Cada dia que passa, eu vou tentando reformular meu conceito de "gênio musical". Acho que antigamente tudo era muito claro: havia os intérpretes e os compositores, e nem sempre os artistas faziam as duas coisas ao mesmo tempo. Mas eu sou de uma época em que isso foi por água abaixo, e a maioria das pessoas passou a compor suas próprias músicas. Se isso é bom ou ruim, eu não sei, mas faz parte da minha formação. Nos anos 60, pelo menos segundo os livros, era tudo meio maniqueísta. Tinha o pessoal da MPB, que era mais ligado à Bossa Nova e tal, e o da Jovem Guarda, que começava a trazer para o Brasil o rock (ou Iê-iê-iê, como se chamava naquela época). Os primeiros eram a elite intelectual, os universitários, artistas, etc. A Jovem Guarda, por sua vez, tinha um apelo popular mais forte, e por isso era duramente criticada. Além do mais, era tida como música "americanizada", e isso se contrapunha à "verdadeira música brasileira" endossada pelos mais conservadores. Ao que tudo indica, Caetano Veloso e cia. estavam mais ligados ao primeiro grupo, pelo menos até antes da Tropicália. Ouvindo "Domingo", fica bem nítido que Caetano Veloso idolatrava João Gilberto. O álbum foi gravado em 1967, e é a primeira aparição de Caetano e Gal em um álbum. Antes disso, separadamente, os dois haviam gravado compactos (quando Gal ainda era conhecida como Maria da Graça) que não fizeram muito sucesso. Só em 68 Caetano iria gravar o seu primeiro álbum sozinho, que leva seu nome como título, e aí começar a fazer o tipo de música que convencionou se enquadrar na tal Tropicália. "Domingo" não tem uma guitarra sequer, nem música de protesto, nem psicodelia. O repertório do disco é todo composto de sambas, a maioria de autoria do próprio Caetano, e tem a participação de figuras como o violonista Dori Caymmi (considerado por ele "o melhor violonista do brasil, depois de João Gilberto") e o arranjador Roberto Menescal, que ajudam a dar ao disco alto nível de execução e arranjos, coisa que seria difícil para dois iniciantes. As temáticas das canções são bem simples: amor, saudade, a Bahia, e o próprio samba. A interpretação de Caetano e, principalmente, a de Gal, são muito diferentes do que eles vieram a fazer mais tarde. Aqui eles estão contidos, cantando baixinho, bem ao estilo da Bossa Nova, e as orquestrações chegam a lembrar Jobim (são orquestrações relativamente convencionais, e isso fica evidente se a gente comparar com o trabalho dos maestros Julio Medaglia e Rogério Duprat posteriormente, mais imprevisível e inusitado). Há também outras referências que não sejam a Bossa Nova. Em "Quem Me Dera", Caetano canta: Ai, quem me dera voltar Quem me dera um dia Meu Deus, não tenho alegria Bahia no coração Esses versos me lembram muito Dorival Caymmi, e é nítida a influência do baiano em outros momentos do disco. Trata-se um álbum fundamental por vários motivos. Primeiro porque estabelece de vez o nome de Caetano Veloso como um dos mais promissores compositores da música brasileira, e com isso ele ganha a simpatia de gente como o próprio João Gilberto, Edu Lobo, Chico Buarque e tantos outros. Serve também de documento para verificar-se o radicalismo de Caetano, Gal, Gil e todos os outros tropicalistas nos seus álbuns seguintes: uma ruptura com a MPB tradicional, e uma conseqüente aproximação com a Jovem Guarda e o rock de modo geral. Mas é, acima de qualquer coisa, uma compilação de canções excepcional. Na minha opinião, Caetano Veloso dificilmente chegou nesse nível outra vez, em termos de composição, mesmo que ainda buscasse uma identidade própria e que a influência de João Gilberto seja tão descarada. Ele pode até ter se tornado um melhor intérprete, mas acredito que depois de 72 ele não compôs nada que se compare a essas músicas. O próprio Caetano afirmou recentemente, num programa de TV, que a sua composição preferia era “Coração Vagabundo”. Se ele tá dizendo, quem sou eu para discordar? Nota: 10 escrito por Haymone Neto | 06:04 | |
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