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O Sítio Aquele velho projeto de fazer um fãzine com os amigos... |
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![]() terça-feira, novembro 26, 2002 U2 – The Best of 1990 – 2000 (ou “a justificativa de um fã para ter gasto 50 reais numa coletânea caça-níquel em que ele já possui a maior parte das gravações”) Recentemente, quando questionado sobre sua década preferida na banda, o guitarrista The Edge não pestanejou: “prefiro os anos 80”. Pois eu nasci em 1982. Quanto o U2 lançou seu disco mais famoso, o The Joshua Tree, eu tinha cinco, seis anos. Ainda não gostava muito de música. Em 1991, ano de lançamento do disco Achtung Baby, eu ainda era um pivete. Mas aí foi diferente: eu já gostava de música. Lembro-me nitidamente do lançamento do álbum, os anúncios nas revistas, meu tio roqueiro elogiando. Aliás, foi esse mesmo tio quem me presenteou com o álbum. De lá pra cá, ele nunca mais saiu da minha lista dos cinco discos preferidos. Nunca, jamais, em hipótese alguma. Dessa forma, eu aprendi a gostar do U2 na época em que eles estavam se “recriando”. Acredite-se ou não nessa palavra, o fato é que Achtung Baby é um disco radicalmente diferente de tudo que o U2 havia feito, seja na sonoridade, nas temáticas ou nas performances. Não penso como The Edge. Minha década preferida do U2 é a de 90 (sem necessariamente desgostar da década anterior, muito pelo contrário). Daí a importância que tem, para mim, essa segunda coletânea da banda. A primeira foi impecável, tanto na seleção do disco 1, que são os hits da banda, quanto no disco 2 da edição limitada, que consiste em b-sides. Não posso dizer o mesmo do segundo volume. Entenda: é uma boa seleção, mas ela tem alguns defeitos graves (e tento falar da seleção do modo menos “pessoal” possível, buscando ser fiel à função do disco, que é mostrar a trajetória da banda nesses dez anos). O primeiro defeito diz respeito à seleção das músicas. “The Fly”, do Achtung Baby, não está no disco, e ao meu ver essa é uma das músicas mais significativas do álbum. Do Zooropa (93) falta “Lemon”, e não vejo motivo para “The First Time” estar lá. Do Pop (97) não entrou “Please” nem “Last Night On Earth”, nem muito menos “Mofo”, que embora não seja uma grande canção, é bastante emblemática da tal fase techno. E do álbum mais recente, “All That You Can’t Leave Behind” (2000) entrou “Stuck In A Moment”, que é uma canção razoável, e faltou “Walk On”, talvez a melhor faixa daquele disco. Outro problema sério são as novas mixagens que foram feitas para “Numb”, “Gone”, “Staring At The Sun” e “Discothèque”. Não vejo muita necessidade de refazê-las, acho que no original já estavam boas o suficiente. E, afinal, se é uma coletânea em tese cronológica, as músicas que lá estão deveriam ser as que constam nos álbuns. No final das contas isso é só um dos muitos artifícios que eles usaram para os fãs que já têm tudo comprem o disco (fora isso, ainda tem a questão da edição limitada dos b-sides e as músicas novas). Ainda sobre o disco 1, lá estão duas músicas inéditas. Uma delas é “Electrical Storm”, que ganhou até clipe e está tocando nas rádios. É uma das melhores coisas que o U2 fez nos últimos tempos, em minha opinião. A outra é “The Hands That Built America”, da trilha sonora do último filme de Martin Scorcese, “Gangues de Nova York”. É uma música sem graça, que não chega a incomodar, nem a empolgar, destacando-se também o título piegas. Mas, acredite, é no disco dos b-sides que as coisas pioram. Praticamente todas as músicas dele são remixes dance dos singles. Se remixes já são um saco, esses são um suplício. B-sides fantásticos, como “Holy Joe” e a versão original de “Lady With The Spinning Head” (que aparece num “dance extended remix”, pfffffff), além das covers da época do Achtung Baby, simplesmente ficaram de fora. Ainda bem que tem “Your Blue Room”, uma das melhores canções do “Passengers” (95), e a versão não remixada de “Electrical Storm”, senão eu jogava no lixo. Acho que, nesse caso, vale mais a pena deixar pra comprar a edição em série, que não custará os olhos da cara como essa edição limitada, e vai poupar o ouvinte de ouvir os bate-estacas. A não ser que você seja fã, como eu. Os caras da banda devem estar pensando: “trouxas, cairam direitinho”. E Adorno deve estar se debatendo na cova. Nota: 2/5 escrito por Haymone Neto | 03:41 | sexta-feira, novembro 22, 2002 Conversando no Bar por Elis Regina ![]() Nessas situações eu tento um bocado me disciplinar, nunca vou direto à música. Sempre ouço todo o disco, principalmente quando ainda o estou conhecendo. Parte por medo de banalizar a música, medo que o ato de ouví-la repetidas vezes neutralize o efeito positivo que ela causa. Parte para exercitar paciência e disciplina. E parte pela ajuda que tem esta determinada música no ato de conhecer o disco por inteiro, já que tenho que ouvir todas as outras junto com ela. E esta música, Conversando no Bar, tem um raro encontro de vários fatores positivos, que talvez expliquem isso que ela causa. O primeiro deles é a intérprete, Elis Regina. Como na maioria de suas interpretações, sua maior qualidade está claramente visível também aqui: ela canta com a alma. Consegue de forma magnífica sentir e transmitir de forma amplificada os sentimentos que a música carrega. Em alguns poucos casos isso se mostra um defeito: na música Tatuagem (Falso Brilhante, 1976), por exemplo, a interpretação dela amplifica sentimentos negativos. É uma música por demais cruel e sofrida e a amplificação destas coisas me causa sensações ruins. Mas é um caso isolado e pessoal, servindo da mesma forma para ratificar esse seu talento. O segundo fator positivo é a própria música, de Milton Nascimento. É uma música sobre lembranças e inocência, sobre os 'tempos da Pan Air', quando tudo era novidade e descoberta: E lá vai menino xingando padre e pedra. E lá vai menino lambendo podre delícia. E lá vai menino senhor de todo fruto. Sem nenhum pecado, sem pavor, o medo em minha vida nasceu muito depois. Descobri que minha arma é o que a memória guarda dos tempos da Pan Air. Tudo isso numa melodia docemente infantil, onírica, que reflete e transmite de forma extremamente poética toda essa tocante nostalgia. O terceiro fator é o arranjo, de César Camargo Mariano. Enquanto a interpretação de Elis está no seu padrão - admirável - o arranjo se mostra magnífico, bem acima da média de César Camargo, que é um grande arranjador, vale dizer. A melodia é toda tocada num violão de 12 cordas e num cravo, criando um clima de 'caixinha de música', amplificado pelo uso de sinos, marimba e xilofone. Afora teclados com reverb e efeitos de phaser, que completam a atmosfera de sonho das lembraças, e uma guitarra distorcida e um órgão nervosos, que entram quando o andamento da música muda completamente trazendo a realidade à tona: estão todos apenas sentados em volta de uma mesa de bar, lembrando e relembrando o passado perdido. Genial. Notei também que alguns dos elementos do arranjo são usados com o mesmo objetivo que os de uma obra mais recente, o Ok Computer, do Radiohead. As mudanças de andamento, suscitando realidades/fases distintas dentro da música; os efeitos (reverbs, phasers) criando uma aura irreal, sobrenatural; os instrumentos de percussão (sinos, marimba, xilofone), representando a inocência. Será que Thom Yorke ouvia Elis? De qualquer forma, essa surpreedente encruzilhada de pontos altos no uso de talentos, além da inegável capacidade de gerar uma obra magnífica, serve apenas de pista na investigação do porquê da inquietação que a obra causa. E este porquê deve estar enterrado bem mais profundamente, em lembraças e experiências pessoais que a música tem a capacidade de suscitar, talvez a maior de suas qualidades. E também bem mais inacessível a uma análise superficial como esta. escrito por Chico Lacerda | 10:50 | Belchior – Alucinação (1976) ![]() * * * * * Nunca fui com a cara de Belchior, e continuo sem ir. Nunca gostei muito das músicas dele, a voz dele é horrorosa, e aquele bigode, meu Deus!, o que é aquilo? Enfim, nunca foi um cantor que aprendi a respeitar. Mas de uns tempos para cá, venho ouvindo falar de Belchior com muita freqüência. Esforço-me para acreditar que esse revival não se deu só por que o Los Hermanos andou tocando umas músicas dele nos seus shows, mas estou cada vez mais convencido do contrário. De qualquer forma, independente do motivo, é bom ver a minha geração desenterrando gente que não está mais no topo das paradas. Pois, meus amigos andavam falando bastante desse disco, e eu por acaso o encontrei numa promoção. E promoção de disco você sabe como é, leva aquele porque o preço tá bom, e você acaba gastando mais do que gastaria se fosse comprar um disco pelo preço da tabela. Enfim, comprei o disco. * * * * * Voltando a Hobsbawm: “Alucinação” é definitivamente um disco feito nas “Décadas de Crise”. Há um clima de nostalgia que perdura praticamente em todas as faixas. Aliás, acho que a palavra certa não é nostalgia. Desencanto parece ser mais adequada. Depois da euforia dos anos 60, paz e amor, veio a crise dos anos 70, e todos aqueles sonhos do passado desmoronaram. “Não estou interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia, nem no algo mais”, lamuria-se nosso amigo cearense. “A minha alucinação é suportar o dia-a-dia, e meu delírio é a experiência com coisas reais”. Acho que ninguém na música brasileira traduziu melhor essa época do que ele. Mas há, fundamentalmente, uma esperança nas palavras de Belchior. “Longe o profeta do terror que a Laranja Mecânica anuncia, amar e mudar as coisas me interessa mais”, canta ele em “A Palo Seco”, a minha canção preferida do disco. Isso também fica claro em “Velha Roupa Colorida”: “Você não sente, não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer. O que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer”. Acontece que o tempo passou e a tal mudança não veio. Talvez por isso Belchior tenha entrado nesse limbo (onde ele não está sozinho, é verdade), sobrevivendo de compilações e re-re-re-re-re-gravações de suas próprias composições de vinte anos atrás. É, amigo, é bom ter cuidado com o que se diz. Pete Townshead tá aí, sessentão e cantando My Generation. Não tenho dúvida de que Belchior é um excelente letrista, e acho que esse disco é o ápice de sua carreira. Talvez ele não seja um poeta, mas ele sabe (ou sabia) traduzir emoções em palavras cantadas. E muitas de suas canções já fazem parte do “inconsciente musical” do povo brasileiro, de tão conhecidas, executadas e regravadas por outros artistas. Mas música, ao meu ver, não é só letra, e é aí que eu vou ter que começar a falar mal de Belchior. Porque, além do problema da voz, suas melodias não têm nada de excepcional. São até repetitivas, para falar a verdade. Começam todas em sol maior. E a produção do disco não colabora: embora ainda não seja um disco dos anos 80, ele é repleto de teclados de mal gosto e solos de guitarra manjados. E tem uns efeitos que eu não entendo, como em A Palo Seco, antes do refrão, junto com a virada (também manjada) de bateria, onde há um som que lembra uma máquina de gelo seco em funcionamento. É um disco que tem seus méritos, sem dúvidas, e não são poucos. Faz parte da história da música popular brasileira, doa a quem doer. E Belchior raramente chegou de novo nesse nível. Mas é um disco que tem, como seu autor, um monte de limitações e problemas. E é um álbum que envelheceu, não apenas no sentido cronológico. O que não justifica, de forma alguma, seu esquecimento nesses últimos anos. 2,5/5 h. escrito por Haymone Neto | 03:23 | quarta-feira, novembro 13, 2002 porque em tudo há poesia. podem odiar poesia, mas todos estão impregnados dela. nada veio a esse mundo isento de ser poético. e poesia não é só estrutura, frases, imagens e rimas bem colocadinhas. é um fragmento de 'um você'. uma fotografia tirada bem de perto da sua alma, numa velocidade bem baixinha. tem poesia naquela música que você tanto gosta, e quase pode furar o cd de tanto colocar no repeat, ou na imagem daquele sábado em que aquela garota de vestido azul pedia um sorvete. poesia é momento que continua. sempre. e disso, de tanto momentos, todo mundo está carregado. e tem poesia pra tudo que é gosto. pra tudo que é gente que ama e odeia. tem poesia que até não tem cara de poesia. lembro de quando li pela primeira vez "namorados" de manoel bandeira. o que era? um mini-conto? uma historinha? pois estava num livro de poemas dele: *** namorados o rapaz chegou-se junto da moça e disse: - antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara. a moça olhou de lado e esperou. - você sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listada? a moça se lembrava: - a gente fica olhando... a meninice brincou de novo nos olhos dela. o rapaz prosseguiu com muita doçura: - antônia, você parece uma lagarta listada. a moça arregalou os olhos, fez exclamações. o rapaz concluiu: - antônia, você é engraçada! você parece louca. *** imagino a admiração do rapaz. poderia já ter olhado para antônia outras vezes, mas lhe parecia que fosse a primeira, talvez por, como ele mesmo tenha dito, ainda não ter se acostumado a ela. e olhar para ela, e poder analogar aquele sentimento de estranheza, mas ao mesmo tempo de encantamento, com algum acontecimento seu de infância, trouxe a mim sentir semelhante. e fiquei maravilhada com a possibilidade de sentir por antônia, que nunca vi, algo, penso eu, semelhante ao que o pobre rapaz sentiu. antônia, você r-e-a-l-m-e-n-t-e é uma lagarta listada! e esse cotidiano narrado de maneira simples, e quase beirando ao cômico, é poético. poético quanto poucas coisas que se pretendem ser poéticas são. talvez como a vida da gente ou como as letras das canções que a gente ama. pseudo-intelectualismo? pode até ser, por parte de algumas pessoas. mas poesia não é demonstração de saber, nem feira de conhecimentos. é sentir. e pra sentir, basta ser gente. poesia que tenta ser ciência, morre querendo sentir. mas por hoje é só. esse foi só um primeiro post. no próximo, continuo falando de poesia. talvez um pouco mais objetivamente, e sem deixar parecer tanto que eu gosto de poesia. e pra fechar esse aqui, fica uma frase do poema "dream on", de james tate: "their children get caught shoplifting at the mall and no one admits that it is poetry they are missing". escrito por simone jubert | 02:42 | terça-feira, novembro 12, 2002 A poesia num Ensaio Fotográfico Tem gente que não gosta de poesia. Pois bem, eu vou falar bem de poesia, pessoa antipoética. Com o auxílio de nosso companheiro Antônio Houaiss, tem-se a definição de que a poesia é a arte de compor ou escrever versos; encanto, graça. O poeta, sendo assim, é o escritor que compõe poesia, o idealista. Eu, no entanto, considero a poesia a verbalização do ser. A expressão da alma humana. Afirmar ser o poeta um reprodutor do ato idealístico é, ao meu ver, uma consideração errônea. E, ainda, de cunho imediatista. Sim, porque é comum, ao ler versos, sem a devida, digamos..., sensibilidade, rotulá-los como inúteis, aspiradores a um ideal. Se, entretanto, o poema for encarado com a devida atenção, é praticamente impossível haver discordância da qualidade do efeito produzido. É possível não existir uma identificação com o autor, estilo, maneira de abordar etc. Mas não identificar-se com a poesia em si é falta de amor próprio. E, ainda digo mais: significa não ter sintonia com o próprio homem enquanto ser. Além de viciante, como qualquer outra droga, a poesia é uma arte extremamente egocêntrica. Aliás, acredito que toda arte o é. Porque toda arte exprime a visão humana, em algum contexto, de alguma coisa. O ponto de partida é o homem, o meio é o homem, a visão é a do homem, o fim é o homem. E quem discordar que me dê um argumento/exemplo plausível, porque eu estou há dez minutos pensando em qualquer possibilidade contrária. Não é que toda arte tenha como idéia central o homem. Mas toda ela existe a partir da perspectiva humana em relação a tudo. Ou até mesmo ao nada. Bem, voltando a poesia e à definição idealista, ela já foi considerada por muitos e por bastante tempo como sendo fruto de trabalho intelectual, descrição de assuntos, sentimentos, objetos ou sei lá mais o quê. Ela já não é mais vista, atualmente, como um texto o qual deve forçar o intelecto, mas, sim, que expresse o drama humano. E acredito que a poesia sempre foi assim. E não importa o formato ou o movimento literário, os escritos existem por algum motivo que põem o homem em questão de alguma forma, mesmo que indiretamente. Ensaios Fotográficos, de Manoel de Barros, atinge o que considero mais difícil em matéria de versos: a amplitude de sentimentos em simples poemas. A plenitude das palavras enquanto comunicadoras de sentimentos. É, também, o que há de mais moderno. Nunca tinha visto poesia assim. Admito. Um formato aparentemente não trabalhado, sem musicalidade e/ou estética, porém de um conteúdo altamente denso. Trata-se de um livro pequeno. Cerca de trinta poesias divididas em duas partes: Ensaios Fotográficos, em que o autor exacerba o silêncio, o que emudece e as imagens, até mesmo na inexistência dela; e Álbum de Família, parte em que o poeta se vê em diversas situações, em papéis diferentes. Quase sempre fazendo uso da primeira pessoa do singular, o que torna o texto bem mais íntimo do leitor. O livro é, portanto, um argumento para se acreditar na possível objetividade de tudo, sem que, com isso, o campo de abrangência seja menor. E como algo aparentemente comum pode funcionar. É a fotografia do autor, no ângulo que ele escolheu, do que ele consegue enxergar. E é o que todos fazem o tempo todo: tirar conclusões de suas próprias fotografias. Acredito que não exista ao certo algo verdadeiramente bom ou ruim; existe, de fato, o que cada coisa nos proporciona sentir e refletir. Entendo, por fim, a poesia, não só a de Manoel de Barros, como a possibilidade de ampliar pensamentos num texto. escrito por Júlia | 00:47 | domingo, novembro 03, 2002 Acid Mothers Temple - Electric Heavyland Se todo japonês é louco, eu não sei, mas tem uma boa percentagem deles que é. Se não, não existiria Boredoms, nem Damo Suzuki, nem Yoko Ono, e nem Acid Mothers Temple. O nome completo da banda é "Acid Mothers Temple And The Melting Paraiso U.F.O. (Underground Freak Out)". A princípio, seria um projeto do guitarrista Makoto Kawabata para dar espaço a outros músicos [ver allmusic.com], portanto não haveria uma formação fixa; entretanto, de uns tempos pra cá ele vem tocando com mais ou menos a mesma formação. Esse sujeito lança discos como quem toma café. Só nesse ano ele deve ter lançado uns 3 e, de acordo com o site oficial da banda [http://www.acidmothers.com/] eles devem lançar 3 álbuns, 5 singles, um ao vivo e uma reedição. A verdade é que nem o próprio site da banda está atualizado com os lançamentos dela. Dá pra perceber que falta de inspiração não é o tipo de problema que afeta a vida do Sr. Kawabata. O disco em questão, Electric Heavyland, tem só três faixas. Cada uma delas com, em média, 15 minutos. Mas não há de se preocupar: são 15 minutos do barulho mais insano, pesado e experimental que eu ouvi nos últimos tempos. A primeira faixa, "Atomic Rotary Grinding God/Quicksilver Machine Head", tem uns vocais aleatórios por cima da massa disforme de ruídos. microfonias e solos de guitarra que me fazem pensar num encontro de Jimi Hendrix com Ornette Coleman. Tudo sob muito reverb e compressão. Em seguida a gente tem "Loved and Confused", iniciando com um riff que lembra o "Vincebus Eruptum" do Blue Cheer, um dos discos mais toscos já gravados. Três munutos depois a música desagua numa improvisação igualmente cheia de solos insanos, barulhos de sintetizador, microfonias e alavancadas que beiram o metal, para depois voltar ao tema inicial (já com a guitarra completamente desafinada), e novamente mudar a cadência da música. Por último temos "Phantom Of Galactic Magnum" que, pasme, inicia em silêncio, com alguns sons aquáticos e um teclado quase progressivo afogado em reverb. Ao fundo, o barulho vai crescendo, alternando-se entre os canais do estéreo, até chegar num estágio quase insuportável. No meio de tamanho caos, ainda podemos reconhecer a banda tocando ao fundo, e os solos fora de controle. São 18 munutos de livre improvisação ensurdecedora. Pode parecer coisa de adolescente ficar delirando com 45 minutos de barulho quase ininterrupto, e não deixa de ser. Mas, mais do que isso, o que me impressionou nesse disco, e nessa banda de forma geral, foi a total liberdade que eles se dão, tanto na frequência com que lançam discos quanto no conteúdo deles. Porque muitas vezes eu vejo as bandas trabalharem demais em cima de um álbum, esquecendo de certos valores que também são importantes na música, como espontaneidade, simplicidade e crueza. O Acid Mothers tem o mérito (que definitivamente não é exclusivo deles) de resgatar certos elementos pouco freqüentes no rock de hoje. Mesmo que não se goste da banda - e não é o tipo de som que todo mundo gosta - acho importante que existam grupos como esse. Nem que seja pra equilibrar a balança. H. escrito por Haymone Neto | 05:33 | |
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