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O Sítio Aquele velho projeto de fazer um fãzine com os amigos... |
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![]() quinta-feira, outubro 31, 2002 Lulina e os Pnins - Vitrola Bar, 26/10/02 Este foi o terceiro show ao qual eu assisti da banda Lulina e os Pnins, o segundo no Vitrola Bar e o melhor dos três. O repertório foi basicamente o mesmo dos outros shows, com algumas mudanças para melhor. Novamente a maior parte do show foi de covers, e a maior parte dos covers foi do Velvet Underground e do Belle and Sebastian. Do Velvet foi mantida a simplicidade dos arranjos originais, em interpretações entre singelas e empolgantes de Femme Fatale, There She Goes Again, I'll Be Your Mirror (vibrei!) e If You Close the Door. E é nesta última que todo o carisma de Luciana (vocal e guitarra) aflora, através de uma coreografia graciosamente pueril, onde ela interpreta os versos da canção através de gestos. E este carisma, uma timidez simpática e engraçada, representada no palco pelos olhos sempre baixos ou fechados entrecortados por momentos de pôgos contidos e dancinhas bem humoradas, foi alvo de vários comentários positivos durante os shows. Isso junto com o resto da banda, cujo carisma provém da empolgação que eles demonstram ao tocar. Já as músicas do Belle and Sebastian foram simplificadas para melhor se adequarem à formação guitarra, baixo, vocal e bateria. Is It Wicked Not to Care, Like Dylan in the Movies e Get Me Away from Here I'm Dying foram executadas com uma dose extra de guitarras, ganhando uma energia até então inexistente. A única exceção foi Winter Wooskie, que permaneceu fiel à original. O que atrapalhou um pouco foi o volume do vocal principal, que pareceu ideal para músicas como The Actress, do Delgados, melhor dos covers na minha opinião e cujo vocal é naturalmente baixo, e Nude as News, do Cat Power e Down by the Water, de P.J. Harvey, que têm vocal mais gritado, mas que ficou baixo demais nas do Velvet e B&S. Irritou um pouco também a bateria, da mesma forma perfeita para músicas como Sisterwoman do Gentle Waves e para as outras citadas acima, mas desnecessariamente elaborada em músicas mais simples. Charles, o baterista, mostrou que tem toda a técnica no manejo do instrumento, só precisando dosar o uso desta técnica em certos momentos. Já o vocal de fundo de Felipe - frontman da banda Badminton, tocando guitarra temporariamente no Lulina - complementou a maioria das músicas com competência, inclusive na ótima parceria com Luciana em Son of a Gun, do Vaselines. Sua guitarra, assim como o baixo de Kléber - também da Badminton - estavam irrepreensíveis, acompanhando todas as músicas da melhor forma. E a maior e melhor mudança foi a adição de mais músicas de punho próprio, quatro agora. Sem um estilo definido, algo que remete a bandas como Pato Fu e They Might Be Giants, estas músicas também mereciam ter tido maior volume no vocal. Destaque para a Kwell, antes uma balada quase acústica, agora uma disco music com guitarras e letra inocentemente nonsense, muito boa. Também para Pedrinho Pergunta, uma canção de ninar porradão com sequências pré-gravadas de xilofone de caixinha de música e muita distorção de guitarras. Foi, junto com The Actress, a música mais empolgante do show, muito bem tocada no seu sincronismo com as partes pré-gravadas. Estas e mais as outras duas tocadas, Bichinho do Sono e Outra História de Shan Lao fazem parte do primeiro CD da banda, Acoustique de France, que Luciana me prometeu uma cópia assim que eles o regravarem. escrito por Chico Lacerda | 18:22 | quinta-feira, outubro 24, 2002 Abril Despedaçado Assisti antes de ontem, em DVD, ao filme Abril Despedaçado, de Walter Salles. Foi outro filme dele que passou no circuito comercial, além do aclamado Central do Brasil. Na época, o trailer, com aquelas resenhas de uma linha de jornais/revistas americanos, não me atraiu nem um pouco. Depois de quase uma hora na locadora discutindo o que pegaríamos pra assistir, entreguei a Saulo, um amigo, o poder da escolha, que então escolheu este filme. O filme é sobre essas duas famílias rivais no sertão nordestino, no começo do século 20. Começa a partir do assassinato do membro de uma delas por um da outra. Pelo código de honra mostrado no filme, a família da vítima deve esperar até o sangue da roupa do morto amarelar pra então se vingar com a morte do assassino, cuja família irá agir da mesma forma, levando então a um gradual extermínio de ambos os lados. ![]() Resultado: ele consegue passar apenas um clima plástico e artificial, perceptível somente com os sentidos e não com o coração. Os personagens, junto com a história, ficaram em segundo plano, subdesenvolvidos. À exceção de Pacu, caçula de uma das famílias, que foi o mais bem explorado. Ele é o único que, da forma que pode, se rebela contra a destruição sem sentido das duas famílias. Encontra refúgio nas fantasias de um livro que ganha de uma dupla de artistas mambembes, que serão também o ponto de fuga do outro irmão. E foi outra coisa pouco explorada pelo filme: a quebra do isolamento como processo de libertação. O filme tem algumas metáforas interessantes, embora introduzidas de forma muito pouco sutil: as famílias presas às suas tradições e códigos são sempre comparadas à bolandeira onde os bois estão eternamente presos, sempre andando e girando mas nunca saindo do lugar. E é também girando sem sair do lugar que Clara, artista mambembe, passa uma de suas tardes, da mesma forma que o Pacu, em seu balanço, só que por vontade própria em ambos os casos. São interessantes per si, mas não acrescentam nada ao filme. Da mesma forma que o final, que faz referência ao final de Deus e o Diabo na Terra do Sol, comparando a libertação de Tonho com sua chegada ao mar. Tem uma cena excelente: quando Tonho cai do balanço, desfalecido, para o desespero da família. É verdadeiramente emocionante, mostrando as possibilidades que traria para a família a libertação dos códigos e costumes arcaicos. Mostra também o que poderia ter sido o filme, se se houvesse tido um cuidado maior com história e personagens, em detrimento desta estética bem cuidada e estudada, porém vazia. escrito por Chico Lacerda | 18:11 | |
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